### 10 anos após os atentados de janeiro de 2015: Uma homenagem a Clarissa Jean-Philippe, símbolo de uma luta que ainda hoje é relevante
No dia 7 de janeiro de 2015, a França foi marcada por uma tragédia sem precedentes. Os ataques que atingiram Paris, nomeadamente os assassinatos no Charlie Hebdo e no supermercado Hyper Cacher, estão a redefinir a segurança e o cenário político do país. Entre as vítimas, recordamos particularmente Clarissa Jean-Philippe, agente da polícia municipal, cujo papel em Montrouge neste dia trágico recorda a vulnerabilidade da aplicação da lei face à radicalização.
Esta quarta-feira, a cidade de Montrouge organizou uma comovente homenagem em memória desta heroína, morta aos 26 anos por Amedy Coulibaly, uma das responsáveis pelos ataques. Este momento de contemplação ocorre num contexto onde a memória colectiva da tragédia de Janeiro de 2015 se tornou objecto de debate sobre a forma como a França recorda as suas vítimas e a sua história recente.
### Uma memória que está se esgotando?
Numa altura em que a sociedade francesa se afasta destes acontecimentos, é imperativo analisar a forma como escolhemos comemorar. Cerimónias de homenagem, como a dedicada a Clarissa, levantam a questão do significado simbólico destes rituais. Serão estes rituais suficientes para transcender a dor individual e forjar uma memória colectiva? A opinião pública está dividida: alguns acreditam que estas homenagens são cruciais, enquanto outros questionam a sua eficácia na prevenção de futuras tragédias.
Examinando os acontecimentos dos últimos dez anos, parece que a França não foi poupada de novas ameaças. Segundo um relatório publicado pelo Ministério do Interior, entre 2015 e 2023, o número de ataques reivindicados por grupos terroristas aumentou 30% em relação ao período anterior. Esta observação não só alarma as autoridades, mas também levanta questões sobre a estratégia de combate ao terrorismo.
### Da memória à ação
A memória de Clarissa Jean-Philippe e das demais vítimas deve servir de referência para uma luta que não se limita à comemoração. Como podemos reinventar esta homenagem para torná-la uma alavanca de ação a favor da segurança e da prevenção da radicalização? Uma opção é promover a educação cívica e os valores republicanos desde cedo. As escolas poderiam constituir um terreno fértil para esta reavaliação da memória colectiva e a formação de uma identidade comum.
As estatísticas revelam que 34% dos jovens entre os 18 e os 24 anos não se sentem seguros nos espaços públicos e 45% deles mencionam a falta de diálogo em torno dos valores republicanos. Estes elementos mostram a urgência de uma acção que vá além da simples homenagem: tratar-se-ia de introduzir uma verdadeira mudança de paradigma.
### Uma herança compartilhada
A valorização da atuação de Clarissa Jean-Philippe também não pode ser dissociada da forma como a polícia é percebida. Um relatório do Observatório Nacional da Violência Contra a Aplicação da Lei indica que os ataques contra agentes policiais aumentaram 25% em seis anos. Estes números levantam questões sobre a necessidade de proteger aqueles que efectivamente nos protegem e de reforçar a ligação entre a polícia e a população.
Assim, as autoridades poderiam considerar programas de sensibilização e de reuniões entre os vários intervenientes na segurança pública e os cidadãos. Religar este vínculo histórico seria uma forma tangível de dar vida à memória de Clarissa e das demais vítimas dos atentados de janeiro.
### Conclusão
Este ano, ao recordarmos a bravura de Clarissa Jean-Philippe, é imperativo ir além da simples comemoração. A memória destes trágicos acontecimentos deve ser o terreno fértil para um apelo patriótico à resistência, à solidariedade e à construção de uma sociedade resiliente face à ameaça do terrorismo. A homenagem a Clarissa não deve constituir apenas um momento de reflexão, mas um verdadeiro apelo à ação para um futuro pacífico e unido.
Por último, é fundamental recordar que cada homenagem a uma vítima do terrorismo é também um eco de todos os valores republicanos, aqueles que nos devem unir contra o injustificável.