Que estratégia poderiam os professores tunisinos e as partes interessadas no setor da energia adotar para superar a crise educativa e energética no início do ano letivo de 2024?


**Tunísia: Entre a greve dos professores substitutos e a crise energética, um regresso tumultuado às aulas**

Com o início do ano letivo que começou num clima de descontentamento, a situação na Tunísia merece especial atenção. O país enfrenta uma dupla crise: por um lado, os professores substitutos, que representam mais de 12 mil cargos, paralisam as aulas devido ao impasse salarial; por outro, a crescente procura de gás doméstico está a agravar uma situação já frágil. Embora estes acontecimentos pareçam distintos, revelam as falhas sistémicas de um país que procura a estabilização.

### Descontentamento acadêmico em uma era de insegurança financeira

A greve dos professores substitutos não é simplesmente um grito de desespero; reflecte décadas de negligência no sector da educação tunisino. Os professores, muitas vezes à mercê de contratos precários e da falta de regularidade no pagamento dos seus salários, simbolizam uma injustiça social que continua. Um estudo do Instituto Nacional de Estatística mostra que quase 50% dos jovens licenciados estão desempregados, o que realça a necessidade de reformas estruturais na educação e no emprego.

O Presidente Kaïs Saïed, embora consciente deste problema, já foi criticado pela sua abordagem resoluta, que carece de visão a longo prazo. A ausência de soluções definitivas levanta a questão da sustentabilidade das reformas implementadas: podemos realmente esperar um futuro educativo saudável, enquanto os pilares da educação permanecem na incerteza?

Soma-se a isso a questão das condições de trabalho. Os professores substitutos exigem recrutamento e garantias de emprego estável, mas a sua situação precária continua inaceitável num país que valoriza a educação como uma alavanca para o desenvolvimento. A situação destes professores reflecte uma desvalorização das carreiras educativas face à inflação e às dificuldades económicas.

### Crise energética: um abismo com repercussões sociopolíticas

Não muito longe das escolas, a população enfrenta outra emergência: o aumento da procura de gás doméstico, agravado pela queda das temperaturas. Neste inverno, marcado por baixas temperaturas, assistiu-se a uma duplicação da procura deste bem essencial. Se o governo reagiu aumentando a produção local e assegurando as importações de gás argelino, estas medidas serão suficientes num contexto em que as casas estão desesperadas para se aquecerem.

O esforço do governo para controlar o abastecimento e evitar abusos no uso do gás subsidiado mostra a importância deste produto. Um relatório do Observatório Económico da Tunísia indica que mais de 70% dos agregados familiares dependem do gás doméstico para cozinhar, aquecer e transportar. Neste contexto, qualquer escassez pode ter consequências desastrosas, tanto a nível económico como social..

A estratégia de gestão de crises deve ter em conta a distribuição da riqueza e os potenciais abusos. A implementação de campanhas de controlo para evitar que os táxis monopolizem o gás destinado às famílias realça as fricções entre os diferentes actores económicos. Estas tensões poderão causar protestos e instabilidade adicional num contexto já frágil.

### Rumo a uma convergência de lutas: educação e energia

É relevante perguntar se estas duas crises, uma na educação e outra na energia, poderiam convergir para uma forma de mobilização social. Na verdade, a interligação entre a educação e a disponibilidade de recursos essenciais como a energia poderia proporcionar um terreno fértil para um movimento mais amplo.

A educação, um motor essencial do crescimento económico, requer infra-estruturas estáveis ​​e recursos suficientes. Por outro lado, a segurança energética é um factor crucial para permitir a prosperidade de todos os estratos da sociedade. A desconexão entre estas duas esferas poderia prejudicar não só o desempenho académico, mas também a economia nacional.

As organizações da sociedade civil podem desempenhar um papel fundamental na unificação destas lutas. Um apelo à acção conjunta, reunindo professores, pais e trabalhadores do sector da energia, poderia criar a pressão necessária sobre o governo para adoptar reformas integradas. O estabelecimento de uma verdadeira política pública que tenha em conta ambas as questões parece crucial para evitar uma escalada de descontentamento.

### Conclusão

Em última análise, o regresso à escola na Tunísia é muito mais do que apenas um regresso aos estudos; é indicativo das tensões subjacentes que persistem no país. As greves dos professores substitutos e a crise interna do gás ilustram uma sociedade atormentada por grandes desafios estruturais. Para o governo, agir em resposta a estas crises é imperativo não só para garantir a ordem pública, mas também para garantir um futuro digno à sua população. É agora que começa o verdadeiro trabalho para construir as pontes necessárias entre educadores, cidadãos e decisores com vista a uma Tunísia mais estável e equitativa.

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