O Cristo Redentor, majestosamente situado no topo do Morro do Corcovado, é muito mais do que apenas um ícone religioso ou atração turística. É um símbolo duradouro da identidade brasileira, um cartão postal não só da cidade do Rio de Janeiro, mas de todo o país.
De braços abertos, com 27 metros de comprimento, o Cristo Redentor parece receber pessoalmente os mais de 4 milhões de visitantes que anualmente fazem a viagem para conhecer o monumento. Mas hoje a sua gestão e o seu futuro estão no centro de um debate crescente em torno da religião, conservação e governação.
Em outubro, foi apresentado um projeto de lei propondo a transferência da gestão do terreno onde fica a estátua do estado federal para a Igreja Católica. Os defensores argumentam que assumir o controle da Igreja resolveria problemas de infraestrutura e acessibilidade de longa data. No entanto, os críticos veem a iniciativa como uma ameaça ao estado secular do Brasil e aos seus compromissos ambientais.
Um monumento na floresta
Erguida em 1922 pela Igreja Católica, a estátua do Cristo Redentor está localizada dentro do Parque Nacional da Tijuca, uma vasta extensão de 3.953 hectares de mata atlântica restaurada, reconhecida como um dos primeiros projetos de reflorestamento em grande escala no mundo em 1861, mais. mais de dez anos antes da criação de Yellowstone.
Reflorestado para mitigar os efeitos do desmatamento causado pelas plantações de café, o então imperador do Brasil criou este parque nacional para preservar ecossistemas ecologicamente significativos e fornecer um santuário para a biodiversidade. Foi declarada Patrimônio Mundial da UNESCO em 2012 e hoje abriga 1.619 espécies de plantas e 328 espécies de animais, muitas das quais estão ameaçadas de extinção.
“Este parque é muito mais do que apenas um cenário para o Redentor”, diz Mauro Pires, presidente da agência brasileira de parques nacionais e unidades de conservação, ICMBio. “É um sistema ecológico vital que apoia a vida selvagem local e desempenha um papel na regulação do clima e do abastecimento de água do Rio.”
As atrações do parque incluem mirantes panorâmicos da cidade, da Baía de Guanabara e do Oceano Atlântico, cachoeiras e ruínas históricas. Atrai turistas e cariocas que vêm fazer caminhadas, andar de bicicleta ou fazer passeios guiados para apreciar as belezas naturais do Rio.
No entanto, o equilíbrio entre turismo e conservação é delicado, especialmente em áreas de tráfego intenso como o Corcovado.
Um acordo entre Igreja e Estado
O projeto de lei propõe separar Cristo e sua região do Parque Nacional da Tijuca, tornando-o uma porção separada e independente a ser administrada pela Arquidiocese do Rio de Janeiro. A Igreja seria então a única responsável por esta área, teria que assumir a responsabilidade pelas reformas necessárias, mas também poderia começar a arrecadar receitas com a venda de ingressos.
O acordo atual divide responsabilidades entre a Igreja e o governo federal. Embora localizada em terreno federal, a arquidiocese tem permissão especial para realizar cultos religiosos ao Pé de Cristo e na capela anexa a qualquer momento, sendo responsável pela sua manutenção, mas não pela infra-estrutura envolvente.
O governo federal supervisiona todo o parque e sua infraestrutura – incluindo estradas, transporte, banheiros, escadas rolantes e venda de ingressos para a estátua. Uma parte da receita da venda de ingressos e concessões vai para a Igreja e, de acordo com um porta-voz do parque, em 2023 foi de US$ 1,78 milhão.
Até agora, o local funcionou como um destino religioso dentro de um local secular. Missas, batizados e casamentos podem ser celebrados aos pés de Cristo, desde que o público em geral ainda tenha acesso ao parque no horário de visitação.
O Arcebispo do Rio de Janeiro, Orani Tempesta, celebra uma missa católica em frente à estátua do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, em 30 de maio. Bruna Prado/AP
A Igreja e os apoiantes do projecto de lei, no entanto, dizem que mais poderia ser feito para capitalizar a fama do monumento. “Se uma marca brasileira quer adotar nossos vasos sanitários, renová-los e colocar seu nome em todos os lugares, por que não deveria ter essa possibilidade?” pergunta Claudine Milione Dutra, coordenadora jurídica da Arquidiocese do Rio de Janeiro.
Dutra argumenta que a burocracia federal também atrapalha o atendimento de algumas das necessidades atualmente atendidas pelo parque. Ao apresentar o projeto de lei em outubro, os legisladores descreveram escadas rolantes, banheiros e fontes de água que estavam fora de serviço há meses.
“Não podemos aceitar que o Cristo Redentor, ícone internacional mais reconhecido do Brasil, permaneça em estado de abandono”, disse o senador Carlos Portinho, autor do projeto, durante sua tramitação nas câmaras do Senado. “A Igreja historicamente cuidou da estátua e está em melhor posição para administrá-la de forma eficaz.”
Pires, presidente da agência de parques nacionais, reconheceu que são necessárias reparações, mas também indicou que a privatização não é a solução. Sob a administração do ex-presidente Jair Bolsonaro, os orçamentos dos parques nacionais foram cortados e só agora os fundos estão voltando, disse Pires. Muitas reformas necessárias, um