Hama, a cidade mártir: entre a tragédia passada e a luta atual


O recente acontecimento que abalou a cidade de Hama, na Síria, com o seu cerco por rebeldes e combatentes da oposição, levanta questões cruciais sobre a atormentada história da cidade. Hama, uma cidade estratégica situada entre Aleppo e Damasco, testemunhou numerosos episódios violentos que marcaram profundamente o seu passado.

Nas últimas décadas, os residentes de Hama desempenharam um papel crucial nos movimentos de protesto contra o regime autoritário de Bashar al-Assad. Em 2011, durante a revolta popular que abalou a Síria, a população de Hama mobilizou-se massivamente para exigir mudanças políticas e sociais. Imagens de manifestações e confrontos com as forças de segurança correram o mundo, testemunhando a coragem e a determinação dos moradores da cidade.

Mas a trágica história de Hama remonta à década de 1980, quando a cidade foi palco de uma repressão sangrenta por parte do regime de Hafez al-Assad, pai do atual presidente. Em 1982, a Irmandade Muçulmana, a principal força da oposição, lançou uma insurreição contra o poder dominante, provocando uma reacção brutal por parte das autoridades. As operações militares levadas a cabo pelas forças governamentais deixaram milhares de mortos e deixaram cicatrizes profundas na memória colectiva dos habitantes de Hama.

Rifaat al-Assad, irmão de Hafez al-Assad e líder das temidas “Brigadas de Defesa”, foi acusado de orquestrar a repressão sangrenta em Hama, o que lhe valeu o apelido de “Açougueiro de Hama”. Recentemente encaminhado à justiça suíça por crimes de guerra e crimes contra a humanidade, Rifaat al-Assad encarna a brutalidade do regime sírio e o sofrimento infligido à população de Hama.

Para além da sua história conturbada, Hama também é conhecida pelas suas norias, estas rodas de irrigação que margeiam o rio Orontes e constituem um símbolo do engenho e da riqueza cultural da cidade. Estas norias, legado de um passado glorioso, testemunham a capacidade dos habitantes de Hama para superar as dificuldades e preservar o seu património, apesar das vicissitudes da história.

Hoje, como a cidade de Hama é mais uma vez palco de violência e de lutas políticas, é essencial recordar o seu passado doloroso e prestar homenagem à resiliência da sua população. Ao documentar os acontecimentos actuais e destacar as questões complexas em jogo em Hama, é possível contribuir para uma melhor compreensão da situação na Síria e para a procura de soluções pacíficas para o futuro da região.

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