Fatshimetria
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A República Democrática do Congo (RDC) prepara-se para enfrentar um período crítico, marcado por grandes desafios de segurança, económicos e humanitários durante o primeiro semestre de 2025. De acordo com o 23.º ciclo de análise do IPC sobre Doenças Agudas de Insegurança Alimentar (IAA), publicado por FAO e PMA, as perspectivas são alarmantes para as populações vulneráveis em todo o país.
Desafios crescentes de segurança
Os conflitos armados correm o risco de se intensificar em várias províncias, especialmente no Kivu do Norte, onde os avanços do M23/AFC estão a alimentar as tensões entre grupos armados. Esta violência, combinada com um reforço da presença das forças armadas nas províncias de Maniema e Mai-Ndombe, poderá levar a deslocamentos massivos de milhares de pessoas forçadas a fugir das suas casas.
Na província de Tanganica, apesar da rendição de algumas milícias Twa em Kalemie e Nyunzu, a situação continua preocupante com uma intensificação das incursões armadas em Manono. Além disso, o afluxo de milicianos Mbororo do Sudão para as províncias de Tshopo, Bas-Uélé e Haut-Uélé está a agravar as tensões e a causar movimentos populacionais.
Crise alimentar e económica iminente
É provável que a situação alimentar se deteriore ainda mais, com a produção agrícola abaixo do esperado devido a conflitos e riscos climáticos. A constante depreciação da moeda nacional terá impacto nos preços dos alimentos básicos, como a mandioca e a farinha de milho, tornando o acesso aos alimentos cada vez mais difícil para as famílias mais vulneráveis.
As inundações esperadas durante a estação chuvosa poderão agravar as dificuldades, danificando as colheitas, perturbando o transporte de mercadorias e afectando as actividades de pesca. Neste contexto, as populações mais carenciadas enfrentarão uma crescente insegurança alimentar.
Desafios de saúde e riscos epidêmicos
As autoridades sanitárias antecipam um aumento dos casos de malária, sarampo e cólera, particularmente na província de Maniema devido às chuvas sazonais. As doenças que afectam os animais, como a peste suína, e as patologias que afectam as culturas, como a podridão da mandioca, também podem agravar-se, ameaçando os meios de subsistência dos pastores e agricultores.
Financiamento humanitário insuficiente
As previsões indicam a continuação de baixos níveis de financiamento humanitário, limitando a assistência alimentar principalmente às pessoas deslocadas. Os esforços para melhorar os meios de subsistência permanecerão marginais, aumentando a vulnerabilidade das populações afectadas.
Perspectivas de curto prazo
Apesar do plano do governo para desenvolver infra-estruturas rodoviárias nos 145 territórios, os seus efeitos a curto prazo serão provavelmente limitados. As melhorias esperadas só poderão ser sentidas a médio prazo, deixando as populações locais expostas a desafios imediatos.
Em conclusão, a análise do IPC destaca a urgência de uma resposta rápida e coordenada para mitigar os impactos destes riscos nas populações já vulneráveis da RDC. No entanto, sem melhoria do financiamento e sem estabilização da segurança, o período de Janeiro a Junho de 2025 promete ser particularmente difícil para o país, com um futuro incerto para os seus habitantes.