No coração da República Democrática do Congo, em Kalemie, teve lugar recentemente um importante acontecimento político. Esta é a 11ª Conferência dos Governadores Provinciais, que reúne os principais intervenientes na administração local. A fatshimetria, como é hoje conhecida, tornou-se um local de debate e de tomada de decisões cruciais para o futuro do país.
O cenário político congolês foi abalado pelo anúncio do apoio unânime dos governadores ao projecto de alteração da Constituição. Uma moção foi enviada ao Presidente Félix Tshisekedi, apoiando a necessidade de uma reforma constitucional. Os governadores destacaram claramente as “fraquezas” da actual Constituição e descreveram o processo de reforma como “legítimo e que salva vidas”. Apelaram também à população congolesa para apoiar esta iniciativa, sublinhando a sua importância no fortalecimento da unidade nacional e no estímulo ao desenvolvimento local.
No entanto, esta posição não foi unânime. Vozes discordantes levantaram-se contra o projeto presidencial, denunciando tentativas de manipulação política e ataques à democracia. Personalidades como Delly Sesanga, Jean-Claude Katende e Martin Fayulu manifestaram a sua rejeição ao projecto de revisão constitucional, temendo uma mudança autoritária no poder.
Perante estas críticas, o Presidente Félix Tshisekedi defendeu a sua visão durante um discurso em Lubumbashi, defendendo uma adaptação da Constituição às realidades contemporâneas do país. Denunciou também discursos que descreveu como manipuladores, afirmando a necessidade de uma reflexão aprofundada sobre o quadro institucional congolês.
Nesta efervescência política, surge uma questão central: a interpretação do artigo 217.º da Constituição, no qual se baseia o debate em torno da reforma constitucional. Alguns actores políticos argumentam que qualquer mudança constituiria uma violação das leis em vigor, alimentando assim a controvérsia. O movimento cidadão LUCHA, por sua vez, anunciou ações de protesto contra o projeto do Presidente, considerando-o como uma manobra destinada a perpetuar o poder em vigor para além dos prazos limitados pela Constituição.
No centro desta dualidade de posições está o futuro democrático da RDC. Os riscos são elevados, entre as aspirações de renovação institucional e a resistência a qualquer forma de deriva autoritária. Neste complexo afresco político, cada ator intervém com todo o seu peso, desenhando assim os contornos de uma nação em busca do seu destino democrático.