No contexto escaldante dos conflitos armados que abalam o Sudão, a violência sexual contra as mulheres assumiu uma escala alarmante. Os relatórios indicam um aumento destas atrocidades, com a responsabilidade predominante atribuída às Forças de Apoio Rápido, lideradas pelo temível General Hemedti. Provenientes das milícias Janjawid envolvidas no genocídio em Darfur, estes paramilitares perpetuam um ciclo de terror e humilhação em todo o território sudanês.
A comovente história de Fátima, uma jovem de 28 anos, revela o horror vivido por muitas outras vítimas. Raptada por soldados das Forças de Apoio Rápido, ela é acusada de conluio com o inimigo e depois repetidamente violada em condições desumanas. Os testemunhos esmagadores revelam o tráfico de escravos sexuais operado por paramilitares, mergulhando centenas de mulheres num pesadelo sem fim.
A história de Fátima revela também o silêncio opressivo que pesa sobre os sobreviventes desta violência. Minadas pela vergonha e pelo estigma social, estas mulheres enfrentam uma dupla provação, sofrendo não só o abuso dos agressores, mas também a indiferença e até mesmo a rejeição daqueles que as rodeiam. No Sudão, o peso das tradições e das normas culturais dificulta a liberdade de expressão, reforçando o ciclo de violência e impunidade.
Apesar das esperanças suscitadas pela revolução que derrubou o regime de Omar al-Bashir, as mulheres sudanesas continuam a ser as primeiras vítimas dos confrontos. Quatro anos depois desta revolta que trouxe promessas de mudança, a realidade no terreno testemunha um dramático retrocesso nos direitos das mulheres, presas numa guerra que destrói o corpo e a alma.
Perante esta tragédia humana que se desenrola diante dos nossos olhos, é crucial quebrar o silêncio, denunciar a impunidade dos culpados e apoiar os sobreviventes na sua busca por justiça e reparação. A indiferença não é uma opção e a luta contra a violência sexual deve ser uma prioridade absoluta para qualquer sociedade que aspire à justiça e à dignidade dos seres humanos. O Sudão deve ouvir as vozes das mulheres, vítimas desta barbárie, e agir para pôr fim a esta espiral de horror que devora a inocência e a vida.