Nos últimos anos, o Burkina Faso tem sido, infelizmente, palco de uma violência extrema que dilacerou o tecido social do país. Na verdade, a ascensão de grupos extremistas, os confrontos com as forças governamentais e os sucessivos golpes de estado mergulharam uma grande parte da população na instabilidade e na precariedade. Neste contexto difícil, eventos como o festival de teatro Recreatrales assumem todo o seu significado e tornam-se símbolos de esperança e resiliência para os burquinenses.
Vejamos o exemplo de Fanta Charlotte Dabone, mãe de três filhos que teve de fugir da sua aldeia após um ataque terrorista, deixando para trás o marido e a quinta. Movida de um lugar para outro, ela luta para suprir as necessidades de sua família. Porém, ao participar deste festival, ela se transforma e encontra um pouco de alegria e leveza. No palco, ela se sente viva, cheia de vitalidade, longe dos tormentos do dia a dia.
O bairro Bougsemtenga, que acolhe o festival Recreatrales, transforma-se então num lugar mágico, onde a magia do teatro opera e permite aos residentes escapar, mesmo que por um momento, da escuridão da realidade que os rodeia. Os artistas, sejam africanos ou europeus, unem-se para oferecer um espetáculo grandioso, cheio de cores e histórias comoventes.
Claude Ilboudo, um ex-vidraceiro convertido em dançarino após um acidente, também encarna o espírito do festival. Para ele, Recreatrales é sinônimo de esperança, tanto pessoalmente quanto para todo o bairro. Cada espetáculo é uma afirmação da vida face à morte, uma resistência às adversidades e à violência que abalam o país.
Aristide Tarnagda, diretor artístico do festival, defende ardentemente a ideia de que o teatro é um remédio contra a escuridão que rodeia o Burkina Faso. Ao escolher para esta edição o tema “Vire o rosto para o sol”, convida espectadores e artistas a olharem para o futuro com otimismo e determinação.
Concluindo, o festival Recreatrales representa uma lufada de ar fresco num país devastado por conflitos e incertezas. Oferece um espaço de liberdade, criatividade e solidariedade, onde todos podem encontrar refúgio temporário e recuperar a esperança num futuro melhor. A arte, em todas as suas formas, revela-se um baluarte precioso contra a violência e a escuridão, e é celebrando a cultura e a diversidade que o Burkina Faso será capaz de se reconstruir, passo a passo, espectáculo após espectáculo.