Num discurso comovente na Cimeira de Líderes Globais sobre Acção Climática em Baku, Azerbaijão, o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, alertou para a contagem decrescente final para limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C. Relembrando cenas de famílias em fuga antes do próximo furacão, de biodiversidade destruída em mares sobreaquecidos, de trabalhadores a colapsarem devido a um calor insuportável, de inundações devastadoras e de crianças a passar fome em secas que devastam as colheitas, o Secretário-Geral destacou a urgência da actual crise climática.
Salientou que as alterações climáticas causadas pelo homem estavam a amplificar estas catástrofes e que nenhum país seria poupado. Ele apontou o dedo aos mais ricos como os principais culpados pelo problema, salientando que os multimilionários mais ricos emitem mais carbono numa hora e meia do que uma pessoa média o faz durante toda a vida.
No entanto, apesar deste quadro sombrio, Guterres disse que continua optimista quanto aos esforços globais para a transição para uma energia mais limpa. Ele observou que os investimentos em redes e energias renováveis excederam os dedicados aos combustíveis fósseis pela primeira vez no ano passado. Além disso, destacou que a energia solar e eólica eram agora a fonte de electricidade mais barata na maioria das regiões, declarando que a revolução da energia verde estava verdadeiramente em andamento.
Guterres apelou aos delegados da COP29 para se concentrarem na redução das emissões, sublinhando que era imperativo limitar o aquecimento global e que as emissões devem ser reduzidas em 9% todos os anos. Ele também defendeu mercados de carbono justos, respeitando as populações locais, sem apropriação de terras ou “lavagem verde”. Ele acrescentou que os planos de ação climática devem ser implementados na próxima conferência climática no Brasil.
Guterres apelou aos países do G20, os maiores emissores de gases com efeito de estufa e com maiores capacidades e responsabilidades, a colaborarem para apoiar as economias emergentes. Salientou a importância de proteger as populações vulneráveis dos efeitos das alterações climáticas, apelando à duplicação do financiamento da adaptação para pelo menos 40 mil milhões de dólares por ano até 2025.
Num apelo urgente, o Secretário-Geral sublinhou que o mundo já não pode procrastinar o financiamento climático e insistiu que o tempo está a esgotar-se. A cimeira COP29 em Baku não deve terminar sem um acordo financeiro sólido a favor dos países em desenvolvimento, sob a forma de financiamento público concessional, baixo endividamento e com alavancas na navegação, aviação e extracção de combustíveis fósseis.
António Guterres concluiu o seu discurso sublinhando a urgência de uma acção colectiva para combater as alterações climáticas. Ele sublinhou que o mundo deve investir agora para evitar uma grande catástrofe climática no futuro, enfatizando que na questão do financiamento climático, “o mundo deve pagar, ou a humanidade sofrerá as consequências”.