No cenário político brasileiro, está surgindo um paralelo surpreendente entre as últimas reviravoltas em torno do presidente dos EUA, Donald Trump, e a reação entusiástica do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro e seus apoiadores. Após o forte regresso de Trump à cena política, a base de apoio de Bolsonaro vê este evento como um sinal de esperança para o seu próprio futuro político, inequívoco quanto às suas ambições para as eleições de 2026.
Apelidado de “Trump dos trópicos”, Bolsonaro saudou a vitória do seu homólogo americano através de vídeos e publicações onde traçou paralelos entre as respetivas trajetórias. Ele expressa esperança de que o retorno de Trump ao poder possa inspirar o Brasil “a cumprir nossa missão”. A relação entre os dois homens vai além da simples admiração, pois ambos construíram legados políticos complexos, marcados por desafios jurídicos e pessoais, tentativas de assassinato e impeachments, ao mesmo tempo que promoveram o envolvimento das suas famílias em papéis políticos de liderança.
Nosso olhar se concentra então no filho de Bolsonaro, Eduardo, peça-chave nessa estratégia política. Ele desenvolveu laços estreitos com conservadores influentes nos Estados Unidos, incluindo o conselheiro de Trump, Steve Bannon, e o presidente da União Conservadora Americana, Matt Schlapp. Estas reuniões permitiram que Bolsonaro se inspirasse nas táticas políticas americanas, fortalecendo assim a sua própria posição.
Esta aliança estratégica deu frutos, com parlamentares brasileiros viajando aos Estados Unidos para entrevistas com figuras como Marjorie Taylor Greene e George Santos. Os intercâmbios e reuniões estão a aumentar, incluindo cimeiras conservadoras nas Nações Unidas e discussões na Organização dos Estados Americanos. Estas interações contribuem para fortalecer o eixo conservador transatlântico entre os dois países, formando uma rede política internacional de grande escala.
A ascensão de Bolsonaro ao poder não se limita a discursos inflamados, mas é acompanhada pelo desejo de fortalecer a infraestrutura política do movimento conservador no Brasil. A criação da CPAC Brasil, inspirada na Conferência Americana de Ação Política Conservadora, bem como a criação do Instituto Conservador-Liberal ilustram esse desejo de perpetuar a influência conservadora no país.
No entanto, paralelamente a esta ascensão política, surgem questões sobre o respeito pelas instituições democráticas por parte de Bolsonaro e dos seus apoiantes. Tal como Trump, Bolsonaro alimentou dúvidas sobre a integridade das eleições no Brasil, alimentando tensões que chegaram ao auge no ataque de 8 de janeiro ao Supremo Tribunal Federal, ao Congresso e aos gabinetes presidenciais..
Esta escalada de confronto com as instituições judiciais brasileiras reflete os acontecimentos durante a invasão do Capitólio, em 6 de janeiro, nos Estados Unidos, destacando os desafios enfrentados pela democracia em ambos os países.
Para além das afinidades políticas, é essencial dar um passo atrás e analisar atentamente os desenvolvimentos em curso, a fim de compreender as questões democráticas levantadas por estas aproximações políticas entre o Brasil e os Estados Unidos.
Esta nova configuração político-media sublinha a importância de um jornalismo de investigação rigoroso e independente para esclarecer os cidadãos sobre as questões democráticas e as influências internacionais que moldam o panorama político actual.