Ao mergulhar no documentário “No Other Land”, dirigido pela jornalista e ativista Basel Adra, surge um sentimento de urgência e necessidade. O emocionante relato da visita do antigo primeiro-ministro britânico Tony Blair à aldeia de Basileia Adra em 2009 levanta questões profundas sobre o poder e a influência das figuras políticas em situações críticas.
A imagem de Tony Blair de terno escuro, cercado por seus seguranças e fotógrafos, movendo-se pela vila por alguns minutos, dá o tom. Sua passagem parece ter provocado mudanças concretas, anulando as ordens de demolição que pesavam sobre a escola e a casa da família de Adra. Este evento simboliza como o poder político pode impactar vidas e comunidades inteiras num curto período de tempo.
O filme documenta então a luta contínua dos residentes de Masafer Yatta, um conjunto de aldeias situadas nas montanhas de Hebron, na Cisjordânia. Os residentes enfrentam repetidas demolições, ataques de colonos judeus, violência por parte de soldados e tentativas de despejo por parte das autoridades israelitas. A ocupação militar, declarada em 1981 em benefício de um campo de treino e de um campo de tiro, pesa muito na existência destas comunidades rurais.
A passagem do filme ao longo dos anos, de 2019 a 2023, oferece uma visão comovente da resiliência e da luta diária dos residentes de Masafer Yatta. Os realizadores, Basel Adra e o jornalista israelita Yuval Abraham, trouxeram para o ecrã uma realidade brutal e muitas vezes esquecida para aumentar a consciência pública sobre a trágica situação destas aldeias palestinianas.
Embora o documentário já tenha ganhado prêmios internacionais e despertado o interesse da crítica, ele enfrenta resistência dos distribuidores americanos, apesar de sua atualidade e relevância inegável. Ao mesmo tempo, a realidade no terreno na Palestina está a piorar, marcada pela recente violência e dramáticas perdas humanas.
Discutindo o seu trabalho a partir da casa da família de Adra em Masafer Yatta, os cineastas enfatizam a importância de documentar e testemunhar os acontecimentos que moldam o destino das suas comunidades. Além dos prêmios e exibições, seu principal objetivo é aumentar a conscientização e fazer ouvir as vozes daqueles que vivem sob a sombra da ocupação e da violência.
Em última análise, “No Other Land” não é apenas um filme, é um apelo à ação. Um convite a olhar além das imagens e dos discursos políticos para ver os rostos, ouvir as vozes e sentir as emoções das pessoas afetadas por injustiças e sofrimentos que muitas vezes são silenciados. Este documentário lembra-nos que por trás de cada estatística, de cada conflito geopolítico, existem vidas, histórias e esperanças que merecem ser ouvidas, compreendidas e respeitadas.