O debate sobre o consentimento no código penal francês: um desenvolvimento esperado


O caso de violação de Mazan provocou um debate apaixonado e complexo em torno da questão do consentimento no código penal francês. Durante o julgamento que abalou o tribunal de Avinhão, os testemunhos comoventes de Gisèle Pelicot destacaram as deficiências da legislação actual em matéria de violação.

Embora a França se encontre atrasada em relação a outros países europeus em termos de ter em conta o consentimento, levantaram-se vozes para exigir uma mudança na lei. Na verdade, a ausência de menção explícita ao consentimento na actual definição de violação deixa espaço para a impunidade para os agressores que afirmam desconhecer o não consentimento da sua vítima.

A senadora ecologista Mélanie Vogel enfatizou a importância de preencher esta lacuna legislativa. Ela lembrou que o consentimento deve ser considerado um elemento essencial na classificação da agressão sexual e do estupro. Esta posição reflecte um projecto de lei anterior, proposto pelo governante eleito, que infelizmente não foi adoptado.

A jurista Catherine Le Magueresse, especialista em questões jurídicas e filosóficas, destacou os paradoxos da legislação francesa sobre violação. Embora a França tenha aderido à Convenção de Istambul que obriga os Estados a incluir o consentimento na sua definição legal de violação, votou ainda assim contra a sua inclusão numa directiva europeia sobre a violência contra as mulheres.

Perante estas contradições, o governo francês inverteu recentemente a sua posição. O Ministro da Justiça, Didier Migaud, declarou-se a favor da introdução do consentimento no código penal, reconhecendo assim a urgência deste desenvolvimento legislativo. Foi criada uma missão parlamentar para reexaminar a definição criminal de violação e considerar uma reforma neste sentido.

Apesar destes avanços, o debate continua vivo e divide os intervenientes políticos e judiciais. Alguns questionam a relevância de legislar sobre a questão do consentimento, temendo que isso coloque as vítimas em dificuldades e complique os procedimentos legais. Para outros, pelo contrário, a integração do consentimento no direito penal é um imperativo moral e legal para melhor proteger as vítimas de violência sexual.

O caminho para o pleno reconhecimento do consentimento no código penal francês ainda está repleto de armadilhas, mas as posições recentes mostram um desejo de mudança e evolução. É essencial colocar a dignidade e o respeito das vítimas no centro dos debates e promover a justiça para uma sociedade mais justa e igualitária.

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