A República Democrática do Congo (RDC) está atualmente imersa numa das crises humanitárias mais graves e complexas do nosso tempo. Segundo Bruno Lemarquis, coordenador das operações humanitárias da ONU na RDC, esta crise já dura mais de 30 anos e é, infelizmente, muitas vezes negligenciada pelos meios de comunicação social e pela comunidade internacional.
Com um número alarmante de 6,4 milhões de pessoas deslocadas internamente, a RDC está entre os países mais afectados pelas deslocações em massa em África. A situação é particularmente crítica na região de Goma, no Kivu do Norte, onde mais de 750 mil pessoas vivem em condições extremamente precárias, enfrentando graves problemas de saúde, violência sexual e outras formas de exploração.
Além das deslocações em massa, outras crises, como o activismo das FAD no extremo norte e os conflitos Codeco-Zaire em Ituri, continuam a criar necessidades humanitárias urgentes. As violações dos direitos humanitários internacionais e a violência baseada no género são comuns, com mais de 60.000 sobreviventes de violência recebidos em centros de acolhimento, 40% dos quais são crianças. Estas atrocidades têm consequências devastadoras, especialmente na educação das crianças deslocadas, uma área onde o país regista um número alarmante de gerações perdidas.
Perante esta crise humanitária sem precedentes, a comunidade internacional mobilizou 964,9 milhões de dólares dos 2,6 mil milhões necessários. Bruno Lemarquis sublinhou a importância do aumento dos investimentos para encontrar soluções duradouras e apelou ao governo congolês para se envolver mais ao lado dos doadores para pôr fim a esta tragédia. É essencial trabalharmos em conjunto para levar a paz e o desenvolvimento a uma região que deles necessita tão desesperadamente.
No entanto, numerosos constrangimentos dificultam o acesso humanitário na RDC, tais como a insegurança generalizada, os conflitos intercomunitários, a presença de grupos armados, as dificuldades de acesso geográfico e os obstáculos burocráticos impostos pelas autoridades locais e nacionais. Infelizmente, apesar destes desafios, a contribuição financeira do governo congolês para a resposta humanitária diminuiu significativamente este ano, sublinhando a urgência de uma maior mobilização de recursos para enfrentar esta crescente crise humanitária.
Em conclusão, a crise humanitária na RDC é uma tragédia que exige uma acção urgente e concertada por parte da comunidade internacional, das autoridades locais e nacionais, das organizações humanitárias e da sociedade civil. É tempo de redobrarmos os nossos esforços para satisfazer as necessidades humanitárias dos milhões de pessoas afectadas por esta crise e para construir um futuro melhor para todos os habitantes da RDC.