No centro das negociações internacionais sobre a guerra na Ucrânia está um ator incomum, mas cada vez mais influente: a China. Embora muitos observadores se perguntem quais poderão ser as motivações de Pequim para mobilizar os países BRICS nos seus esforços para influenciar o resultado do conflito ucraniano, surge uma hipótese: a procura de ganhos financeiros.
É inegável que a China não pode resolver sozinha o conflito na Ucrânia. No entanto, o país parece determinado a desempenhar um papel cada vez mais activo na procura de uma solução pacífica para esta crise. Com o aumento da incerteza eleitoral nos Estados Unidos, Pequim aproveita a oportunidade para se posicionar como um mediador credível, evitando assim a todo o custo deixar que os louros da pacificação sejam colhidos por uma actual ou futura administração americana.
A abordagem chinesa tende a centrar-se na formação de uma coligação maioritária, composta principalmente por países do Sul, para ditar os termos da paz às partes em conflito e ao resto do mundo. Baseando-se na aliança BRICS e noutros estados do sul, a China pretende formular um plano concreto e específico para acabar com a guerra na Ucrânia.
A iniciativa conjunta sino-brasileira de 6 pontos poderia, assim, receber apoio massivo, reunindo mais de 110 países por trás desta proposta. A cimeira dos líderes dos BRICS em Kazan, na Rússia, poderá ser o palco da apresentação deste plano chinês, que visa encorajar a Ucrânia e a Rússia a negociar sob a égide da maioria dos países do Sul.
A estratégia de Pequim baseia-se em grande parte em argumentos persuasivos personalizados de acordo com os interesses de cada país do Sul. Se a China conseguir assegurar um apoio significativo, poderá muito bem alterar o equilíbrio de poder no processo de paz na Ucrânia. A vertente financeira, onde a dependência económica da China desempenha um papel fundamental, poderá ser um elemento determinante na tomada de decisões dos países do Sul.
No entanto, esta abordagem levanta questões sobre o possível controlo da China na cena internacional e a possível reorganização da arquitectura global baseada no direito internacional. Ao substituir instituições internacionais existentes por mecanismos de arbitragem chineses, a China corre o risco de favorecer sobretudo os seus interesses pragmáticos em detrimento dos princípios universais de justiça e legalidade.
Neste contexto, o envolvimento de África e de outras regiões do Sul não se limita a uma simples parceria económica com a China. Levanta questões fundamentais relativas ao futuro da governação global e ao equilíbrio das potências internacionais. A evolução desta dinâmica complexa poderá muito bem redefinir os contornos da diplomacia global e influenciar as relações internacionais nos próximos anos.