No coração da capital do Mali, Bamako, desenrola-se uma cena inusitada: burros são usados para recolher resíduos. Yacouba Diallo chama dois burros, Keita e Kanté, para puxarem sua carroça pela cidade. Esta iniciativa compensa a ausência de serviços municipais de gestão de resíduos e demonstra a engenhosidade dos residentes face a um problema crescente.
Bamako está a afogar-se num oceano de lixo e Yacouba não é o único a ser pago diretamente pelas famílias para recolher o seu lixo, o que lhe permite ganhar até 165 dólares por mês. As carroças puxadas por burros constituem um meio de transporte mais acessível do que os veículos motorizados, uma solução pragmática para quem não tem meios para adquirir um camião.
Apesar dos desafios logísticos encontrados, estes catadores utilizam burros para manobrar em locais de difícil acesso por veículos motorizados, como o lixão de Badalabougou, onde se acumulam montanhas de resíduos. Os gestores registram escrupulosamente em um caderno os nomes dos motoristas e carrinhos que chegam ao local, gerenciando os pagamentos no final do mês.
A rede de carroças puxadas por burros funciona fora do controlo estatal e demonstra as deficiências dos serviços municipais de gestão de resíduos de Bamako. Com uma população em constante crescimento, a cidade luta para lidar com o constante aumento do desperdício. Os especialistas destacam a necessidade urgente de infra-estruturas adequadas para gerir as pilhas de lixo que se acumulam.
Notando a inacção das autoridades locais, o especialista em gestão de resíduos, Bamadou Sidibé, sublinha a necessidade de construir aterros que cumpram as normas exigidas para receber todos os resíduos produzidos pela cidade de Bamako. A ausência de aterros operacionais que cumpram as normas actuais complica ainda mais a situação.
As autoridades locais reconhecem a escala do problema de gestão de resíduos e apontam o dedo aos residentes, acusando-os de não se preocuparem com o seu ambiente ou com a sua saúde. Confrontada com a ausência de soluções sustentáveis, a montanha de resíduos continua a crescer, reflectindo um grande desafio que a cidade de Bamako deverá enfrentar nos próximos anos.