Rumo a uma redefinição inclusiva do estupro: quebrando as cadeias da justiça patriarcal

Fatshimetrie é um tema quente que levanta questões críticas sobre a definição de estupro e justiça para vítimas de agressão sexual. O recente desafio à definição legal de violação pelo Projecto Embrace constitui um importante passo em frente na luta por uma justiça mais equitativa e informada.

A principal questão reside na inclusão da intenção na definição de violação, o que reintroduz a exigência de prova física de que a vítima foi dominada. No entanto, este requisito implica implicitamente uma defesa dos agressores, reforçando noções ultrapassadas de “força e resistência” necessárias para provar a violação.

É essencial compreender que a noção de resistência aberta, tal como exigida pela actual definição de violação, se baseia em entendimentos arcaicos do crime de violação. Esta resistência óbvia exigia prova de dominação física da vítima através da violência para considerar que a violação tinha ocorrido. Além disso, esta resistência implicava que se uma mulher não “resistisse” activamente ao seu agressor, ela seria cúmplice da sua própria violação ou mentiria sobre o seu nível de consentimento.

A questão da honra na violação está profundamente enraizada nas origens do crime de violação, mas esta noção é incompatível com uma democracia constitucional que garante o direito à dignidade, à igualdade e à autonomia corporal. A introdução da intenção no crime de violação é inconstitucional porque reafirma uma regra misógina e agora inconstitucional, que incentivou os tribunais a tratarem os depoimentos das vítimas com cautela.

Além disso, reforça as noções patriarcais sobre os corpos das mulheres e a sua violação, vendo-os como um ataque à propriedade dos homens e não como um ataque à dignidade e à autonomia corporal das mulheres. Na realidade, a verdadeira função da intenção na definição de violação é disciplinar, legitimar a violência e organizar as vidas das mulheres e das “outras mulheres” para servir e desculpar a violência e a masculinidade tóxica dos homens.

A defesa das crenças subjetivas dos agressores e da intencionalidade nos casos de estupro reforça as relações opressivas entre mulheres e “outras mulheres”, ao perpetuar narrativas sobre o que as mulheres são, quem são, o que podem ser, e ao impor punições a essas que não aderem a essas prescrições relacionais.

Em conclusão, a actual definição de violação não põe em causa os fundamentos que legitimam a violência sexual masculina e a masculinidade tóxica. Mais do que contentar-se com as reformas legislativas, é crucial denunciar as lógicas patriarcais que consideram certas mulheres como descartáveis ​​e, portanto, invioláveis. É hora de reconhecer que cada indivíduo, independentemente do género, orientação sexual ou profissão, merece o direito fundamental à autonomia corporal e à proteção contra a violência sexual.

Este artigo, tanto crítico como informativo, analisa em profundidade as questões que envolvem a definição legal de violação e destaca a importância de uma abordagem mais inclusiva e informada para garantir justiça a todas as vítimas de agressão sexual.

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