No abundante mundo da música congolesa, faleceu uma figura emblemática, deixando para trás um património cultural inestimável. Pierre Yantula Elengesa, mais conhecido como “Little Pierre”, retirou-se aos veneráveis 83 anos, deixando um enorme vazio no cenário musical da República Democrática do Congo (RDC).
Apelidado de “Pequeno Pierre” devido à sua estatura humilde, este talentoso percussionista foi o último sobrevivente do African Jazz, a lendária orquestra fundada por Joseph Kabasele, vulgo “Grand Kallé”. Juntos, marcaram a história da música congolesa e africana ao compor títulos icónicos, entre os quais o famoso “Independence Cha Cha”.
Esta peça lendária foi criada durante o período tumultuado que precedeu a independência da RDC, por ocasião da mesa redonda de Bruxelas em 1960. Símbolo de uma era de convulsão e esperança, “Independence Cha Cha” tornou-se o hino das aspirações frustradas de um todo o continente após a independência africana.
O seu desaparecimento mergulhou as pessoas próximas dele e os fãs da música congolesa numa profunda tristeza. Dieudonné Ya Ngomba, ilustre jornalista e colunista musical, fala com emoção da sua relação especial com “Petit Pierre”, descrevendo-o como uma verdadeira figura paterna que viu crescer uma geração inteira. Sua ausência deixou um vazio no set do show de variedades musicais onde era esperado para uma homenagem final.
Apesar da sua inegável contribuição para a riqueza cultural da RDC e da influência do Jazz Africano à escala continental, “Petit Pierre” infelizmente não recebeu o reconhecimento oficial que merecia durante a sua vida. Esta falta de consideração das autoridades culturais foi motivo de pesar para este artista apaixonado e dedicado.
Nestes dias de luto, Dieudonné Ya Ngomba apela a uma homenagem nacional para saudar a memória de “Petit Pierre”, um grande ator da história musical congolesa. Espera também que as autoridades cuidem do funeral deste discreto mas essencial gigante da música africana.
Assim, com o desaparecimento de “Petit Pierre”, vira-se uma página da história musical da RDC e do continente africano, deixando um legado imortal e uma nostalgia palpável de uma época passada, mas indelével nas memórias e nos corações de todos aqueles que vibrou ao som de “Independence Cha Cha”.