No complexo mundo das relações internacionais e da preservação do património cultural, um tema quente desperta atenção e debate: a restituição de bens culturais entre a Bélgica e a República Democrática do Congo. A troca destes bens culturais, há muito despojados e guardados em museus europeus, levanta questões profundas sobre a herança colonial e a legitimidade das instituições que herdaram estes objectos.
Quando a Bélgica começou a enveredar pelo caminho da restituição, ao manifestar o seu desejo de devolver os bens culturais congoleses saqueados durante o período colonial, uma onda de esperança percorreu as comunidades congolesas e os círculos artísticos do país. Esta abordagem, embora tardia, foi saudada como um primeiro passo para reparar injustiças do passado.
O gesto simbólico do Rei dos Belgas, que apresentou uma máscara da etnia Suku à RDC durante a sua visita oficial em Junho de 2022, marcou uma viragem nas relações entre os dois países. Esta máscara, denominada “Kakuungu”, está agora exposta no Museu Nacional da RDC, fortalecendo o vínculo entre as duas nações e abrindo caminho para uma cooperação mais transparente e igualitária na preservação do património cultural.
As iniciativas tomadas pela Bélgica, como a apresentação de uma abordagem jurídica para a restituição dos bens culturais congoleses e a atribuição de um orçamento para um vasto projecto de investigação da proveniência, demonstram uma consciência progressiva da importância desta questão. É essencial não só devolver os objectos roubados e adquiridos ilegalmente, mas também promover uma verdadeira reconexão das comunidades congolesas com o seu património cultural.
O Museu Real da África Central, sob a direção de Bart Ouvry, encarna este desejo de se reconectar com a história e restabelecer laços autênticos com as comunidades envolvidas. A abordagem holística da Bélgica, que visa examinar todas as colecções europeias obtidas durante o período colonial, abre caminho para uma reflexão mais profunda sobre a forma como as instituições museológicas devem abordar a sua herança e legitimidade coloniais.
A questão da restituição de bens culturais vai além do simples ato de recuperação de bens preciosos. Levanta questões de memória, identidade e justiça histórica. Ao reconhecer o sofrimento passado e ao envolver-se num diálogo respeitoso com as comunidades envolvidas, a Bélgica e a RDC estão em conjunto a traçar um caminho para a reconciliação e a melhoria do seu património comum.
Em conclusão, a restituição de bens culturais entre a Bélgica e a RDC é muito mais do que uma questão de restituições materiais; é um processo de reconhecimento, reparação e reconciliação. Ao envolverem-se neste processo com transparência e empatia, ambos os países estão a preparar o caminho para um futuro onde o património cultural seja verdadeiramente partilhado e celebrado em toda a sua riqueza e diversidade.