Fatshimetrie é uma plataforma online que se dedica a fornecer análises detalhadas e pertinentes sobre assuntos políticos, econômicos e sociais. Neste artigo, abordamos a importância das próximas eleições na África do Sul e os desafios cruciais que o país enfrenta.
As eleições que se aproximam na África do Sul marcam o fim do último reduto do regime racista. O mundo observa com fascínio enquanto uma nação representa o grandioso desfecho do racismo institucionalizado do século XX, oferecendo um espetáculo extraordinário de um governo minoritário repressivo que abdica voluntariamente do poder.
É não apenas um espetáculo para ser testemunhado, mas aguardado para ver se a reconciliação racial – tão difícil em muitos países – é possível, e se nossa nação pode desafiar sua história para se tornar um símbolo de mudança, repleto de esperança e paz.
Para os sul-africanos, as preocupações são mais práticas. Será o novo governo capaz de trazer paz e segurança? Cumprirá suas promessas de reconstrução social sem gastos excessivos ou endividamento descontrolado? Lidará com a pressão política sem violar os direitos humanos? Conseguirá combater a corrupção que se enraizou em nosso governo?
Para responder a essas questões essenciais: as eleições resultarão em mudanças reais e substanciais? Iniciarão um processo de desenvolvimento para superar o terrível legado de desigualdade e pobreza do apartheid?
Embora haja aqueles que irão às urnas para se opor à mudança, votando para tentar minimizar o impacto da democracia, temendo o que possam perder na nova África do Sul em vez do que podem ganhar lá.
No entanto, é hora de nos entusiasmarmos com o enorme potencial que nosso país pode alcançar: uma sociedade multirracial que pode ocupar seu lugar de direito na comunidade global e afirmar-se com orgulho em África; um governo capaz de iniciar o difícil processo de reconstrução do tecido social em termos de habitação, educação e saúde; um Estado comprometido com o tratamento justo de seus cidadãos e dotado de novas estruturas judiciais, respaldadas pela Constituição, para proteger os direitos do povo; uma nova autoridade com a legitimidade e credibilidade que seus antecessores não possuíam para enfrentar os difíceis problemas do crime e violência.
A prioridade deve ser a reconstrução. O apartheid nos deixou uma sociedade profundamente dividida racial e socialmente, profundamente desigual e, portanto, instável. A construção de uma nova sociedade deve ser baseada em esforços para nos libertarmos da instabilidade inerente à privação e divisões baseadas na raça.
Enquanto as forças de mercado definirão os parâmetros da reconstrução, elas sozinhas não conseguirão superar os terríveis desequilíbrios herdados do passado. O crescimento econômico é um pré-requisito, mas apenas acentuará os conflitos se um novo governo não conseguir equilibrar a distribuição desse crescimento.
Como esses objetivos podem ser alcançados de forma mais eficaz? Através das políticas de mercado livre dos partidos Nacional, Democrata e Inkatha Freedom, da social-democracia do ANC ou do socialismo do Congresso Pan-Africano?
No final do século XX, não podemos privilegiar apenas os interesses das empresas ou dos trabalhadores e deixar o restante à própria sorte, como sugerem os defensores míopes do livre mercado ou socialistas radicais. Devemos buscar um equilíbrio de interesses, um pacto social que reconheça o interesse comum no crescimento econômico, na criação de empregos e na distribuição mais equitativa da riqueza – e o papel do Estado em equilibrar esses interesses e direcionar os recursos para onde são mais produtivos.
Enquanto o PN, apesar das mudanças, ainda representa interesses setoriais, o ANC destaca-se por ser uma coalizão ampla, ultrapassando barreiras raciais, de classe, de gênero e étnicas – fato fundamental para lidar com os desafios complexos que enfrentamos.
O IFP, NP e PD, apesar de suas evoluções, continuam a representar interesses setoriais. O PN carrega muito do peso de seu passado e não é suficientemente confiável em seu novo compromisso com a não-racialidade. A fragilidade de seus compromissos liberais foi demonstrada por sua disposição em recorrer ao racismo para atrair o voto negro no Cabo Ocidental. Os grupos minoritários que depositam sua confiança no PN para proteção devem considerar o quão oportunista o NP é e como rapidamente abandonará seus compromissos quando for conveniente para o partido. O NP também está em declínio, revelando indivíduos como Hernus Kriel – cujos instintos políticos são fundamentalmente antidemocráticos.
O IFP optou por apostar em uma forte carta étnica, ignorando a lição de quão destrutiva e contraproducente essa estratégia pode ser, como demonstrado em contextos como Bósnia, Biafra e Burundi. Votamos para superar o racismo, não para reforçá-lo.
O PAC também tem tendência a jogar a carta racial e a ser tolerante demais com slogans como “Um colono, uma bala”. Suas políticas socioeconômicas não oferecem uma abordagem equilibrada e inclusiva para enfrentar os desafios presentes.
Em suma, as eleições iminentes na África do Sul representam um momento decisivo na história do país. A escolha do novo governo terá repercussões significativas no processo de reconstrução social e econômica para superar as profundas desigualdades deixadas pelo apartheid. A sociedade sul-africana deve buscar um equilíbrio entre os interesses de mercado, a justiça social e a estabilidade política para garantir um futuro próspero e harmonioso para todos os seus cidadãos.
[Artigo originalmente publicado em Fatshimetrie.](https://pt.fatshimetrie.org/2024/04/26/a-importancia-das-proximas-eleicoes-na-africa-do-sul-e-os-desafios-cruciais-que-o-pais-enfrenta/)