Nos bastidores da sociedade, persiste uma sombra escura que ameaça o equilíbrio financeiro e abala a confiança dos cidadãos nas instituições. A lavagem de dinheiro, como um veneno que se infiltra nas veias da economia, é uma realidade insidiosa que ameaça o próprio coração das nossas estruturas financeiras. Na África do Sul, as recentes revelações de corrupção e branqueamento de capitais envolvendo o Presidente da Assembleia Nacional em montantes superiores a quatro milhões de rands ressoam como o som de uma trombeta alarmante.
O nosso país, classificado em 83º lugar entre 180 no Índice de Percepção da Corrupção estabelecido pela Transparência Internacional, está a lutar para se libertar das garras da lista cinzenta de nações corruptas. Esta classificação sublinha a extensão do flagelo financeiro que continua a minar os esforços dos sectores público e privado para restaurar a nossa imagem internacional.
O branqueamento de capitais, no centro deste tumulto financeiro, envolve ocultar a origem ilícita dos fundos, a fim de os tornar legítimos. Esta prática não só perturba os mercados financeiros, mas também mina a confiança nas nossas instituições e enfraquece os nossos quadros regulamentares. Mas o problema vai além do aspecto puramente económico. Embora o branqueamento de capitais seja a moeda do crime, muitas vezes constitui a espinha dorsal de outras actividades criminosas, exacerbando as desigualdades sociais e ameaçando a segurança nacional.
A relação entre fraude e branqueamento de capitais acrescenta uma dimensão complexa a esta questão. As atividades fraudulentas, sejam elas realizadas de forma tradicional ou através de fraudes digitais, geram ganhos ilícitos que são depois branqueados para disfarçar a sua origem. A proliferação de canais digitais e criptomoedas exacerbou ainda mais este desafio, proporcionando anonimato e facilitando as transações transfronteiriças. À medida que os fraudadores adaptam as suas táticas para explorar vulnerabilidades nos sistemas financeiros, a necessidade de medidas proativas torna-se premente.
Para enfrentar eficazmente esta questão premente, são necessárias soluções neutras, éticas e inovadoras. A implementação de inteligência artificial generativa e automação de processos robóticos (RPA) em organizações, desde governos a bancos e outros prestadores de serviços financeiros, pode ajudar a neutralizar este submundo, transação a transação.
A inteligência artificial pode oferecer muito mais em termos de desvalorização da moeda que alimenta o sistema de lavagem de dinheiro. Fornece insights sem precedentes sobre atividades financeiras ilícitas, proporcionando benefícios de automação exponenciais. Esses benefícios vão desde capacitar uma entidade ou força-tarefa para detectar atividades suspeitas em tempo real – e em grande escala – até detectar padrões de transação e identificar anomalias. Algoritmos de aprendizado de máquina, por exemplo, podem filtrar terabytes de dados transacionais em tempo real, sinalizando comportamentos suspeitos e reduzindo falsos positivos.
Algoritmos de processamento de linguagem natural verificam fontes de dados não estruturados, como postagens em mídias sociais, em busca de sinais de atividades potencialmente de lavagem de dinheiro. Da mesma forma, as técnicas de análise de rede ajudam a encontrar as conexões entre as transações e as entidades ou indivíduos por trás desses movimentos, expondo-as à luz. Além disso, as soluções baseadas em IA podem adaptar-se às ameaças em evolução, aprendendo com o passado para fortalecer as capacidades preditivas.
A luta colectiva contra o branqueamento de capitais passa pela conformidade e monitorização rigorosas das instituições financeiras. É notável que os principais bancos sul-africanos estejam a assumir a liderança na adopção da inteligência artificial para combater este flagelo. Para outro banco regional que enfrentou uma sanção por incumprimento no seu país de origem, a automatização robótica de processos revelou-se inestimável para aumentar a conformidade através da rápida limpeza de dados, monitorização, verificação, alerta e monitorização de medidas tomadas para fazer face aos riscos de branqueamento de capitais.
O HSBC também está entre as instituições que utilizam inteligência artificial para analisar mais de 1,2 mil milhões de transações em busca de sinais de crimes financeiros todos os meses. O banco afirma agora que identifica “duas a quatro vezes mais atividades suspeitas do que antes” com uma detecção de risco mais precisa.
Apesar do seu potencial, a adoção da inteligência artificial no setor financeiro deve superar alguns obstáculos. As principais preocupações incluem proteção de dados, governação e ética, e preconceito algorítmico. As instituições financeiras devem navegar num mundo de regulamentações complexas que regem a recolha e o processamento de dados de clientes, garantindo a conformidade com leis rigorosas de proteção de dados, como o Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR) e a Lei de Proteção de Dados, Portabilidade e Responsabilidade de Seguros de Saúde nos Estados Unidos. (HIPAA).
As preocupações relacionadas com a privacidade e a segurança dos dados são significativas, com a inteligência artificial ainda na sua infância operacional, onde as regras e padrões de segurança ainda não foram totalmente definidos.. Num contexto como o da África do Sul, precisamos de mais investimento para formar uma força de trabalho qualificada, capaz de implementar soluções de inteligência artificial; uma força humana com considerável experiência em ciência de dados, aprendizado de máquina e áreas afins.
Também surgem preocupações éticas, uma vez que os sistemas de inteligência artificial podem perpetuar distorções presentes nos dados históricos, conduzindo a resultados injustos ou discriminatórios. As barreiras locais a este respeito manifestam-se na falta de acesso a conjuntos de dados locais específicos. Estes obstáculos são reforçados pela dependência de tecnologias ultrapassadas e por uma resistência arraigada à mudança de mentalidade. Como indústria, também precisamos de considerar e aprender com os quadros de governação, como a Lei da Inteligência Artificial da UE.
Apesar destes desafios, a inteligência artificial pode certamente oferecer uma resposta significativa na luta contra o branqueamento de capitais. Ao combinar a experiência humana e a inovação tecnológica, podemos avançar para um futuro financeiro mais transparente, ético e eficiente. O compromisso de impedir o crime financeiro deve ser intransigente, e a inteligência artificial pode ser a nossa aliada nesta busca por uma sociedade mais honesta e resiliente face ao ataque dos bandidos financeiros.