Artigo: “A divisão política no Senegal é exacerbada após o adiamento das eleições presidenciais”
Desde o anúncio do adiamento das eleições presidenciais no Senegal, a dissensão política tornou-se cada vez mais aguda. Se os apoiantes e os opositores do adiamento se chocarem veementemente, mesmo dentro do campo do poder, a situação toma um rumo preocupante. As demissões de altos funcionários e de cargos públicos mostram que o adiamento da votação está longe de ser unânime e corre o risco de dividir ainda mais a classe política senegalesa.
A primeira a assinalar o seu desacordo com o Presidente Macky Sall é Awa Marie Coll Seck, Ministra de Estado e presidente da Iniciativa de Transparência nas Indústrias Extractivas. Na sua carta de demissão dirigida a Macky Sall, afirma que “o Senegal merece ver o seu calendário republicano respeitado”, ao mesmo tempo que reconhece que o processo eleitoral deve ser melhorado. Sua saída é um forte sinal de desaprovação ao presidente e aos seus argumentos sobre a crise institucional e as disfunções do processo eleitoral.
Outra voz discordante apareceu com Zahra Iyane Thiam, diretora da agência senegalesa de promoção de exportações, que apoiou fortemente Macky Sall durante a sua eleição em 2012. Ela rompeu com a sua posição ao declarar que o adiamento das eleições presidenciais é “uma violação flagrante da nossa carta fundamental.” Esta posição nas redes sociais sublinha a profunda divisão entre aqueles que estão no poder.
Mesmo dentro da coligação governamental, Benno Bokk Yakaar, um membro do parlamento votou contra o projecto de lei para adiar as eleições presidenciais. Este gesto forte mostra que as dissensões afectam até o campo maioritário. As divisões políticas são tais que algumas vozes defendem a criação de um novo Conselho Constitucional para remediar as irregularidades.
Por outro lado, outros partidos políticos, como o Partido Democrático Senegalês (PDS), saudaram o adiamento da votação. Para eles, as numerosas irregularidades no processo de selecção dos candidatos ameaçavam a integridade e a inclusão da eleição. Consideram, portanto, que foi necessário um adiamento para evitar o caos.
Neste ambiente político tenso, a Comissão da CEDEAO publicou um comunicado de imprensa no qual apela ao respeito pela Constituição e à rápida tomada das medidas necessárias para restaurar o calendário eleitoral. Este segundo comunicado de imprensa, considerado mais firme que o anterior, mostra que a situação preocupa a comunidade da África Ocidental. Está prevista uma reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da CEDEAO para discutir a situação no Senegal.
Em conclusão, o adiamento das eleições presidenciais no Senegal exacerbou as divisões políticas dentro da classe política. As demissões e os cargos públicos ilustram a oposição feroz entre apoiantes e opositores do adiamento, inclusive dentro do campo do poder. A situação tornou-se preocupante e ameaça a estabilidade do país. É crucial que sejam tomadas medidas para restaurar a unidade e o respeito pelo calendário eleitoral.