O Código do Medo: Combatendo a homofobia e promovendo os direitos dos homossexuais nos Camarões
A homofobia e a discriminação contra os homossexuais continuam a ser problemas graves em muitos países e os Camarões não são, infelizmente, excepção. É neste contexto que o realizador camaronês Appolain Siewe decidiu fazer ouvir a sua voz através do seu chocante documentário, The Code of Fear.
O filme, apresentado no Festival Internacional de Documentário (Fipadoc), é um ato de coragem e bravura. Ele opta por revelar o legado colonial da homofobia e a atual terrível repressão aos homossexuais que assola o seu país natal. Através de múltiplos casos de homossexuais perseguidos e mortos, mas também de explicações e análises de professores, cientistas, padres e activistas dos direitos humanos, Siewe pinta um retrato impressionante da sociedade camaronesa e estabelece as bases para muitos possíveis debates futuros.
A origem do projeto surpreende, pois o próprio diretor não é homossexual. Mas o seu encontro com a comunidade LGBTQ+ na Alemanha, onde estudava na altura, despertou a sua curiosidade e a sua vontade de compreender. Vindo de uma criação homofóbica, ficou chocado ao ver dois homens se beijando na rua, mas também enfrentou o racismo como estrangeiro. Foi então que começou a questionar a forma como a homossexualidade era percebida e tratada, tanto na Alemanha como nos Camarões.
O seu documentário é, portanto, fruto de uma longa reflexão e de uma busca pessoal de compreensão. Pretende destacar a discriminação sofrida pelos homossexuais nos Camarões, onde os atos homossexuais são considerados crime e puníveis por lei, com pena máxima de seis anos de prisão. Mais do que um mero tabu, a homossexualidade é quase invisível na sociedade camaronesa e levantar o assunto é muitas vezes considerado um crime em si.
O Código do Medo também destaca o legado colonial da homofobia nos Camarões. Na verdade, as normas e valores homofóbicos foram importados pelos colonos europeus e integrados na sociedade camaronesa, perpetuando assim a discriminação. O filme oferece, portanto, uma reflexão aprofundada sobre as consequências das políticas coloniais na sociedade contemporânea.
O diretor teve que enfrentar muitos desafios para concluir este projeto. Ele enfrentou oposição de sua família, principalmente de seu pai, que se recusou a participar do filme e morreu antes que pudessem se reconciliar. Apesar destes obstáculos, Appolain Siewe perseverou em dar voz aos homossexuais camaroneses e em aumentar a sensibilização para as injustiças que enfrentam.
O Código do Medo é um documentário essencial que ilumina um assunto muitas vezes ignorado ou subestimado. Tem como objetivo denunciar a discriminação e a violência sofridas pelos homossexuais nos Camarões, ao mesmo tempo que incentiva o diálogo e a reflexão sobre os direitos das minorias sexuais no país. Appolain Siewe, como empenhado realizador camaronês, demonstra grande audácia ao expor as realidades do seu país e assim contribuir para a promoção da igualdade e da justiça para todos.