Ministro da Defesa da Somalilândia renuncia devido ao controverso acordo portuário na Etiópia
Numa surpreendente reviravolta nos acontecimentos, o Ministro da Defesa da Somalilândia, Abdiqani Mohamoud Ateye, apresentou a sua demissão em protesto contra um acordo recente que permite à Etiópia utilizar um porto na região separatista da Somália. Ateye criticou o presidente Muse Bihi Abdi por não consultar os ministros sobre este acordo crucial, afirmando que tomou conhecimento dele através da mídia.
Diz-se que o acordo em questão concede à Etiópia acesso ao Mar Vermelho através de um porto na região de Awdal, na Somalilândia, especificamente em Lughaya. No entanto, o que parece ter causado maior alvoroço é o alegado reconhecimento da independência da Somalilândia que acompanha o acordo. Isto provocou tensões diplomáticas entre a Somália e a Etiópia, com a Somália a considerar isso um acto de “agressão” e a chamar de volta o seu embaixador em Adis Abeba. Em resposta, a Etiópia também chamou de volta o seu embaixador, agravando as já tensas relações entre os dois países.
Uma das principais razões da renúncia de Ateye é a falta de consulta do Presidente sobre uma decisão tão significativa. Como Ministro da Defesa, Ateye sente que deveria ter sido incluído nas discussões sobre o acordo portuário da Etiópia. A sua demissão significa profunda insatisfação dentro do governo sobre o processo de tomada de decisão e destaca a necessidade de maior transparência e inclusão.
Este acordo portuário tem implicações de longo alcance, não só para a Somalilândia e a Etiópia, mas também para o panorama geopolítico mais amplo da região. A Etiópia, um país sem litoral, há muito procura acesso ao Mar Vermelho, uma vez que é uma rota comercial crítica para as importações e exportações do país. Se implementado, este acordo proporcionaria à Etiópia uma saída muito necessária para águas internacionais e poderia impulsionar significativamente a sua economia.
Por outro lado, o reconhecimento da independência da Somalilândia, mesmo que apenas implicitamente, levanta questões sobre o impacto potencial na integridade territorial da Somália. A Somália, que não reconhece a Somalilândia como um Estado independente, considera qualquer negociação com ela uma violação da sua soberania. O acordo portuário reacendeu as tensões entre as duas entidades, complicando ainda mais a situação já volátil na região.
A demissão do Ministro da Defesa serve de alerta para o governo da Somalilândia. Destaca a importância de envolver todas as partes interessadas nos processos de tomada de decisão e de garantir a transparência e a responsabilização nos acordos internacionais. No futuro, é crucial que as preocupações de todas as partes envolvidas sejam abordadas e que seja iniciado um diálogo abrangente para encontrar uma solução mutuamente benéfica.
À medida que a situação continua a evoluir, é essencial acompanhar de perto os desenvolvimentos e considerar as potenciais ramificações deste acordo portuário na dinâmica geopolítica da região.. As implicações deste acordo vão além dos países envolvidos e têm o potencial de moldar o futuro do Corno de África.