Ngugi wa Thiong’o: Um mergulho na infância de um escritor comprometido
No seu primeiro volume de memórias intitulado “Dreaming in Wartime”, o escritor queniano Ngugi wa Thiong’o transporta-nos para a sua infância marcada pela colonização britânica no Quénia. Através de uma escrita comovente e comprometida, ele pinta um quadro realista da vida sob o jugo colonial e da sua própria consciência das injustiças que reinavam ao seu redor.
Nascido em 1938 numa aldeia rural no centro do Quénia, Ngugi viveu uma infância difícil, onde a exploração, a expropriação e a repressão dos povos indígenas pelas autoridades coloniais eram comuns. Neste contexto opressivo, ele revela como a sua mãe analfabeta desempenhou um papel crucial ao oferecer-lhe a oportunidade de frequentar a escola, apesar das dificuldades financeiras da família. Foi graças a ela, e à determinação das mulheres quenianas em geral, que a sociedade queniana conseguiu resistir e manter-se face à colonização.
Ngugi também nos mergulha na sua primeira consciência das injustiças e brutalidades da colonização. Através de memórias comoventes, como a da sua participação na colheita do piretro desde os 8 anos, toma consciência da pobreza da sua família e da influência colonial no seu quotidiano. É através da educação, que ele considera a sua única saída, que encontra a salvação face a esta realidade opressiva.
Contudo, o compromisso de Ngugi wa Thiong’o não se limita à escrita. Ao longo de sua carreira como escritor, dramaturgo e ativista, foi preso, agredido e exilado por suas posições políticas radicais. A sua poderosa e multifacetada obra literária valeu-lhe reconhecimento mundial e permitiu-lhe tornar-se um dos fundadores e pais essenciais da literatura africana de língua inglesa, ao lado de Chinua Achebe e Wole Soyinka.
Para além da sua história pessoal, Ngugi wa Thiong’o oferece-nos uma reflexão profunda sobre a herança colonial que continua a marcar o continente africano. O seu testemunho lembra-nos a importância da educação, da resistência e da voz das mulheres na luta pela liberdade e emancipação. Em suma, “Dreaming in Wartime” leva-nos ao cerne da luta pela dignidade humana e lembra-nos que a literatura pode ser um poderoso vector de mudança social.