Nos bastidores tumultuados do cenário político da África do Sul, as tensões crescentes ameaçam dificultar a delicada transição para um governo de unidade nacional sob a liderança de Cyril Ramaphosa. Embora todos os olhos estivessem inicialmente voltados para os partidos rivais que desafiaram o ANC nas eleições gerais, parece agora que os adversários mais formidáveis de Ramaphosa estão entre os seus próprios aliados políticos.
As saraivadas verbais eclodiram durante tensos debates entre o ANC e os seus parceiros de aliança sobre as escolhas feitas para manter o partido no poder depois de perder a sua maioria nacional em 29 de Maio. Multiplicaram-se os insultos, as cartas de advogados e os convites para se explicarem, enquanto os membros da aliança tripartida devem aceitar a nova realidade da representação política abaixo da maioria absoluta.
A tensão está a aumentar particularmente com o Partido Comunista Sul-Africano (SACP), que critica o ANC por o ter ignorado durante a formação do governo. Os líderes do PCSA não incluídos no gabinete sentem-se negligenciados e acreditam que Ramaphosa deveria ter procurado separar os partidos que se separaram do ANC, em vez dos que estão à direita para manter o poder.
O secretário-geral do SACP, Solly Mapaila, abriu as hostilidades num discurso numa reunião do sindicato Nehawu, deplorando a falta de consulta com o ANC. Segundo ele, o partido deveria ter favorecido uma aliança com os Combatentes pela Liberdade Económica (EFF) em vez de unir forças com a Aliança Democrática (DA) e a Frente da Liberdade Plus (FF+).
Esta posição de Mapaila levanta questões sobre a capacidade do SACP de ler correctamente o panorama político e aprender com os erros do passado. Na verdade, recordemos os episódios do passado em que o partido se desviou ao apoiar figuras políticas controversas, nomeadamente Jacob Zuma. As consequências destas escolhas, ilustradas por casos de corrupção e captura do Estado, continuam a pesar fortemente na sociedade sul-africana.
Hoje, o SACP parece ter perdido grande parte da sua influência no ANC e na sociedade em geral. A sua associação anterior com Zuma manchou a sua imagem como vanguarda revolucionária e relegou-a ao estatuto de simples observadora de assuntos políticos.
É, portanto, crucial que os actores políticos, como Solly Mapaila, dêem um passo atrás e aprendam lições do passado antes de proporem orientações políticas, correndo o risco de repetir os erros que enfraqueceram o país no passado.
Em suma, a cena política sul-africana continua marcada por lutas internas pelo poder e rivalidades ideológicas, destacando a necessidade de uma reflexão profunda e de uma acção concertada para forjar um futuro político estável e próspero para todos os cidadãos.