Num ponto de viragem histórico para a política sul-africana, o Presidente Cyril Ramaphosa revelou recentemente um gabinete multipartidário sem precedentes, marcando uma grande transição no cenário político da África do Sul. A medida surge após eleições parlamentares significativas que viram o Congresso Nacional Africano perder a sua maioria parlamentar, abrindo caminho para um acordo de partilha de poder envolvendo sete partidos diferentes.
O anúncio do novo gabinete surge depois de um mês de intensas negociações entre o ANC de Ramaphosa e o antigo principal partido da oposição, a Aliança Democrática, que concordou em colaborar e partilhar o poder. Esta coligação política, composta por 11 partidos no total, sete dos quais obtiveram cargos ministeriais, depende principalmente da capacidade do ANC e do DA, os dois principais partidos políticos, de pôr de lado as suas diferenças ideológicas para trabalharem em conjunto.
Nesta nova configuração, o ANC mantém a maioria dos cargos de gabinete, com membros-chave como Paul Mashatile reconduzido como vice-presidente e ministros responsáveis por pastas-chave como finanças, comércio e indústria, relações exteriores, defesa e justiça. Esta partilha de poder também inclui concessões significativas concedidas à AD, à qual são atribuídos seis cargos ministeriais, incluindo o de ministro da Agricultura do seu líder, John Steenhuisen.
Uma das principais questões reside na capacidade dos dois partidos colaborarem e ultrapassarem as suas diferenças ideológicas, particularmente quando se trata de políticas económicas, como o programa emblemático do ANC para o empoderamento económico dos negros. Esta coligação única enfrenta grandes desafios, especialmente em questões raciais, com profundas sensibilidades históricas herdadas do apartheid e uma sociedade ainda marcada por desigualdades flagrantes, uma elevada taxa de desemprego e serviços públicos deficientes.
Apesar destes desafios, Ramaphosa e Steenhuisen comprometeram-se a trabalhar em conjunto para enfrentar os desafios socioeconómicos que impedem o desenvolvimento da África do Sul. Esta nova governação, embora complexa, representa uma oportunidade sem precedentes para superar divisões políticas e construir um futuro mais inclusivo e próspero para o país.
Em última análise, esta coligação multipartidária demonstra o desejo dos actores políticos sul-africanos de transcender as divisões partidárias para satisfazer as aspirações e necessidades da população. As questões cruciais da governação, da luta contra as desigualdades e do fortalecimento da unidade nacional num país que procura a estabilidade e o desenvolvimento sustentável permanecerão.