**Título: A Pesquisa Eleitoral Sul-Africana: Um Momento Chave para o País**
As eleições na África do Sul são um momento crucial que determinará o cansaço do país com o partido no poder, o Congresso Nacional Africano (ANC), em vigor desde o fim do regime do apartheid, há 30 anos. O Presidente Cyril Ramaphosa e o ANC estão a lutar para manter a sua maioria parlamentar, e várias sondagens de opinião colocam o apoio ao partido em menos de 50% antes das eleições de quarta-feira.
Contudo, isto não significa que o ANC, em dificuldades, será removido do poder na maior economia avançada de África. Apesar do declínio em sua popularidade, nenhum partido surgiu para substituí-lo. Em vez disso, os sul-africanos descontentes com o ANC recorrem a vários partidos da oposição em busca de soluções.
O ANC provavelmente ainda obterá a maior parcela de votos. Mas sem maioria absoluta, terá de formar uma coligação para permanecer no governo e manter Ramaphosa para um segundo e último mandato presidencial. Para um país-chave do continente africano, isto poderá trazer novas complicações. Algumas coligações recentes a nível local revelaram-se verdadeiros fracassos.
Embora a maioria dos sul-africanos pareça disposta a expressar o seu descontentamento com o ANC num momento decisivo, um governo de coligação poderá não resolver facilmente os principais problemas do país, que incluem os elevados níveis de desemprego e a desigualdade, os mais elevados do mundo.
**O Processo Eleitoral:**
Na África do Sul, os cidadãos não votam diretamente no seu presidente, mas decidem a composição do Parlamento, denominado Assembleia Nacional. Eles escolhem partidos, que ganham assentos no Parlamento com base na sua parcela de votos nacionais. Os 400 membros da Assembleia Nacional elegem então o presidente, o que significa que o partido maioritário escolhe o chefe de Estado.
O ANC está no poder desde as primeiras eleições multirraciais em 1994, mas desta vez poderá ter de fechar acordos com outros partidos para garantir os 201 votos necessários aos legisladores para reeleger Ramaphosa, de 71 anos, e formar um governo.
O principal dia eleitoral é quarta-feira, quando as pessoas votarão em todas as nove províncias. Determinará a composição das legislaturas nacionais e provinciais. Alguns que receberam autorização especial votarão mais cedo na segunda e terça-feira. Os resultados são esperados nos próximos dias.
Quase 28 milhões dos 62 milhões de habitantes do país estão registados para votar, naquela que será apenas a sétima eleição nacional totalmente democrática do país desde o fim do apartheid.
**Atores Políticos:**
Existem mais de 50 partidos políticos registados para as eleições nacionais, um recorde, e ainda mais para as legislaturas provinciais. Candidatos independentes poderão concorrer pela primeira vez.
O destino do ANC está nas manchetes: Ramaphosa é o líder do partido e o rosto da sua campanha. A principal oposição é a Aliança Democrática centrista, ou DA. Ela chegou a um acordo com alguns partidos mais pequenos na esperança de que o seu voto combinado pudesse expulsar completamente o ANC do governo, mas isso não parece provável.
Os Combatentes pela Liberdade Económica, ou EFF, de extrema-esquerda, são o terceiro maior partido, liderados por Julius Malema, um ex-líder jovem do ANC.
A DA obteve cerca de 20% nas últimas eleições nacionais e a EFF 10%, em comparação com os 57,5% do ANC. Nenhum dos partidos da oposição pareceu aumentar significativamente em popularidade.
Isto se deve em grande parte a dezenas de outros partidos, muitos deles novos, que acumulam pequenas participações. Embora 80% da população da África do Sul seja negra, é uma sociedade multirracial, com muitas etnias e 12 línguas oficiais. Um cenário político igualmente diversificado está começando a emergir.
Entre os novos partidos, o Partido MK ou uMkhonto weSizwe (que significa Lança da Nação) atraiu mais atenção porque é liderado pelo ex-presidente sul-africano Jacob Zuma, que se afastou do ANC, que outrora liderou numa dura luta contra Ramaphosa, o homem que o substituiu.
Zuma foi desqualificado para se candidatar ao Parlamento, mas ainda pode fazer campanha pelo seu partido.
**Os principais problemas:**
O desemprego e a pobreza surgem como os problemas mais prementes para a maioria da população. Embora a África do Sul seja considerada o país mais avançado de África, as suas contradições são flagrantes. Tem também uma taxa de desemprego de 32%, classificada como a mais alta do mundo, e mais de metade dos sul-africanos vive na pobreza, segundo o Banco Mundial.
Isto alimentou grande parte do descontentamento, uma vez que milhões de pessoas da maioria negra pobre sentem que o ANC não melhorou suficientemente as suas vidas três décadas após o apartheid, que oprimiu brutalmente os negros em benefício da minoria branca.
Outras questões eleitorais importantes que parecem estar a afastar os eleitores do ANC são a elevada taxa de crimes violentos, vários escândalos de corrupção governamental ao longo dos anos, o fracasso de alguns serviços governamentais básicos e uma crise dentro da empresa estatal fornecedora de electricidade.
As eleições na África do Sul tornam-se assim um momento crucial não só para o país, mas também para o futuro político do continente africano. Os resultados das urnas determinarão o caminho a seguir para um país marcado pela história e com desafios contemporâneos significativos.