Vingança popular na República Democrática do Congo: quando a justiça individual ameaça o Estado de direito

A vingança popular e a lei: quando a justiça individual se torna uma ameaça ao Estado de Direito

No contexto congolês, a vingança popular é uma realidade que levanta muitas questões sobre o funcionamento da justiça e a ausência do Estado de direito. Na verdade, em vez de apresentarem uma queixa perante um órgão judicial, alguns cidadãos envolvem-se em actos de violência para fazer justiça com as próprias mãos. Este fenómeno, embora compreensível num sistema onde a justiça falha, constitui uma infracção punível ao abrigo da lei congolesa.

Segundo o professor de direito e deputado nacional Jacques DJOLI, a vingança popular é fruto da ausência de autoridade estatal e de um verdadeiro Estado de direito. Na verdade, num sistema onde a confiança nas instituições judiciais é baixa, alguns cidadãos recorrem à violência para resolver os seus litígios. Isto reflecte uma profunda frustração com o sistema judicial, mas também levanta questões sobre a legitimidade e legalidade de tais actos.

O advogado da Ordem dos Advogados de Kinshasa-Matete, Jean-Marie Kabengela Ilunga, sublinha que qualquer litígio que não possa ser resolvido amigavelmente deve ser levado aos tribunais para que o juiz possa arbitrar. Porém, nos casos de vingança popular, a violência prevalece sobre o processo judicial, causando consequências nefastas para a sociedade.

O advogado criminalista Professor Boniface Kabisa lembra que o palavreado, que outrora foi um meio de regulação de conflitos e de coesão social, desapareceu gradualmente em favor da violência. Assim, em vez de procurarem soluções pacíficas para os conflitos, alguns indivíduos preferem vingar-se através de actos de violência, alimentando assim um ciclo de violência e insegurança.

É, portanto, essencial compreender as causas da vingança popular e explorar possíveis soluções para remediá-las. Uma das fontes deste fenómeno reside no discurso de ódio que se espalha na sociedade congolesa. Estes discursos alimentam o ressentimento, a desconfiança e a violência, conduzindo assim a um círculo vicioso de vingança e confrontos.

Para evitar a vingança popular, é importante fortalecer a autoridade do Estado e promover um verdadeiro Estado de direito. Isto envolve a reforma do sistema judicial, a sensibilização do público para os valores da justiça e da resolução pacífica de conflitos e a promoção do diálogo construtivo entre as diferentes partes interessadas.

Em conclusão, a vingança popular na República Democrática do Congo é o resultado da ausência de um verdadeiro Estado de direito e de um sistema judicial deficiente. Esta forma de justiça individual, embora explicável num tal contexto, vai contra os princípios fundamentais da justiça e deve ser combatida. É essencial promover uma cultura de resolução pacífica de conflitos e reforçar a autoridade do Estado para garantir a segurança e a justiça a todos os cidadãos congoleses.

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