“Km5 em Bangui: a era passada de um bairro animado e cosmopolita”

Localizado no 3º arrondissement da capital da República Centro-Africana, Bangui, é um bairro popular conhecido como Km5, ou “Cinq-Kilos” para os habitantes locais. Este bairro predominantemente muçulmano viveu um período de dinamismo e diversidade entre os anos 60 e 90. Hoje, levo-vos a descobrir este lugar que já foi vibrante de vida.

Caminhando pelas ruas do Km5, tive a oportunidade de conhecer Aladji Cabara, morador do bairro. Com nostalgia, ele relembra a época em que o KM5 era o centro da atmosfera de Bangui. Ele fala sobre os diversos bares dançantes que lotavam as ruas, como o Punch Coco, o Étoile e o Rex. Esses locais eram animados por grandes orquestras como Vibro Succès, Tropicale Fiesta e Centrafrica Jazz, que faziam os moradores dançar a noite toda. Aladji recorda com emoção esta época em que o custo de vida era mais barato e as comunidades cristã e muçulmana viviam em perfeita harmonia.

Outro morador, Amadou Roufaï, fala sobre o apelo gastronômico do Km5. Ele se lembra do méchoui, prato tradicional feito de cordeiro grelhado, considerado o melhor da cidade. Os centro-africanos da diáspora que regressavam a Bangui fizeram uma paragem obrigatória no Km5 para provar esta iguaria antes de regressarem a casa. As noites duravam até altas horas da noite, num ambiente amigável onde as pessoas vinham comer, beber e apreciar a música.

A música era de facto um elemento central da vida no Km5. O campo de futebol do Sagbado, outrora encruzilhada do sapê – movimento de moda que valoriza a elegância da indumentária -, acolheu noites dançantes onde todos se preocuparam em ficar lindas com penteados à base de óleo de karité e trajes elegantes. Os ritmos do Ndombolo, Rumba, Motenguènè e Jazz fizeram vibrar o bairro.

Infelizmente, os anos de crise marcaram um declínio para o Km5. Os bares dançantes foram destruídos, a harmonia entre as comunidades foi quebrada e a vida noturna perdeu o seu brilho. Contudo, o espírito do Km5 continua presente na memória dos moradores que recordam com emoção esta época em que o bairro era ponto de encontro de celebração, partilha e diversidade cultural.

Hoje, apesar das dificuldades, o Km5 mantém um lugar especial no coração dos centro-africanos. Os moradores trabalham para reconstruir um bairro onde a harmonia encontre o seu lugar e onde a música e o convívio recuperem os seus direitos.

Concluindo, o bairro Km5 de Bangui viveu uma época florescente nas décadas de 60 e 90, marcada pela diversidade cultural, pela música e pelo convívio. Embora o bairro tenha passado por momentos difíceis, permanece ancorado na memória dos moradores, que aspiram a redescobrir esta atmosfera única que fez do Km5 um lugar animado e cosmopolita para se viver.

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