O universo musical de Kinshasa revela vozes inusitadas, as das crianças shégé, que encontram no rap uma forma de se libertarem. Estes jovens, muitas vezes esquecidos e marginalizados, apropriam-se deste estilo musical para expressar as suas realidades, os seus tormentos e as suas esperanças.
No centro desta abordagem, o centro cultural Mokili Na Poche oferece um espaço de liberdade a estas crianças de rua. Através de atividades artísticas e culturais, encontram uma forma de resgatar a sua história, reconstruir-se e recuperar a autoconfiança. Dentre essas atividades, gravar um álbum de rap acaba sendo uma terapia que salva vidas.
Ao verbalizarem as suas mazelas, estes jovens artistas revelam-se e libertam-se. O rap torna-se assim para eles uma arma poderosa para lutar contra a injustiça e a indiferença da sociedade que os rodeia. Cada rima, cada prosa, torna-se um grito de revolta e de esperança, uma forma de romper o silêncio que envolve o seu quotidiano.
Através desta abordagem artística, as crianças shégué redescobrem a sua voz, a sua identidade e o seu lugar na sociedade. Para eles, o rap torna-se uma verdadeira ferramenta de expressão, resiliência e realização. Ele os ajuda a superar seus traumas, recuperar sua história e encontrar seu lugar em um mundo que há muito os ignorou.
Assim, estes jovens rappers shégué de Kinshasa lembram-nos que a música tem o poder de curar, unir e transformar. A sua voz, transportada pelos ritmos inebriantes do rap, ressoa como um grito de liberdade e esperança num mundo muitas vezes cego e indiferente.