### O papel do Banco Central da África do Sul diante do crescimento econômico: uma análise diferenciada
Enquanto o país aguarda os resultados da reunião do Comitê de Política Monetária (MPC) do Banco Central da África do Sul, é essencial reconsiderar o papel dessa instituição além de seu mandato tradicional de manter a estabilidade dos preços. De fato, o artigo 224 da Constituição estipula que o banco central visa “proteger o valor do dinheiro no interesse do crescimento equilibrado e duradouro da República”. Essa responsabilidade, muitas vezes ofuscada pela luta contra a inflação, merece estar atenta, especialmente em um contexto em que o desemprego continua sendo um desafio persistente em 32,1%.
Até agora, o Banco Central demonstrou uma certa eficiência na proteção do valor do rand, mas sua intervenção em favor do crescimento econômico parece menos manifesto. Paradoxalmente, enquanto a situação econômica geral está se deteriorando e as previsões pessimistas de crescimento estão tomando forma – com uma revisão da queda na previsão de crescimento para 1,7 % para 2025 – as prioridades do banco parecem permanecer focadas no direcionamento rigoroso da inflação, fixado entre 3 % e 6 %. Tal orientação, embora fundada na teoria monetária, levanta questões quanto à sua eficácia em um clima de crescimento estagnado e exclusão socioeconômica.
Decisões políticas recentes, apesar de demonstrar uma certa consciência da crise do emprego, dificilmente parecem constituir uma abordagem integrada. Por exemplo, o Banco Central tomou medidas para suavizar certos regulamentos relativos ao controle de câmbio e estabelecer sua posição como uma autoridade de resolução financeira. No entanto, essas iniciativas, embora cruciais para a estabilidade financeira, não visam diretamente as preocupações relacionadas ao emprego.
O MPC, em sua declaração de março de 2025, reconheceu as incertezas econômicas globais e a possibilidade de distúrbios no comércio internacional, mas manteve sua taxa de juros em 7,5 %, sem levar em consideração possíveis implicações no mercado de trabalho. Ver um banco central se concentrar principalmente na inflação em um país com altos indicadores de desemprego poderia levantar a questão do equilíbrio entre sua política monetária e apoio ao desenvolvimento de uma economia inclusiva e resiliente.
É relevante se perguntar se essa abordagem negligencia a ligação intrínseca entre a política monetária e as condições de emprego. A escolha da taxa de juros e da estratégia de câmbio, enquanto procura estabilizar o rand, também pode ter efeitos colaterais nos setores que são cruciais para o emprego, especialmente aqueles com alta intensidade de trabalho. Longe de reduzir os desafios estruturais, como insegurança energética e discrepâncias de habilidades, parece que o banco é limitado a uma análise que, embora analítica, possa ser insuficiente.
Uma reflexão é essencial quanto à oportunidade de integrar as previsões do mercado de trabalho no processo de tomada de decisão do banco central. Da mesma maneira que a inflação prevê políticas monetárias ancoradas, pode ser benéfico imaginar os resultados do emprego como um aspecto fundamental das decisões econômicas. Uma colaboração mais próxima com as autoridades fiscais pode permitir respostas mais sutis, direcionando a salvaguarda dos setores vulneráveis sem comprometer a credibilidade do objeto de inflação.
Revitalizar o mandato de crescimento econômico do Banco Central não significa necessariamente sacrificar a estabilidade dos preços. Em vez disso, é uma questão de reconhecer que a sustentabilidade macroeconômica se baseia no estabelecimento de uma economia inclusiva, resiliente e acessível. Em um país onde a exclusão econômica já é onipresente, ignorar os riscos no emprego pode tornar a política monetária um exercício simples no gerenciamento de sintomas, em vez de uma abordagem verdadeiramente focada na cura das causas profundas de desconforto econômico.
À luz dos importantes desafios que se aproximam do horizonte, em particular o impacto da perda potencial das vantagens do Programa de Crescimento e Oportunidade na África (AGOA) e dos distúrbios do comércio mundial, é crucial que o Banco Central da África do Sul precise avaliar sua abordagem. A questão é se, com uma vontade política e flexibilidade em sua missão, ela pode adotar uma visão mais global que não apenas visa estabilizar a economia, mas também acelerar o caminho para a prosperidade compartilhada e equitativa.