“Amchilini: um mergulho cativante na tradição chadiana e no poder das mulheres”

Entrevista com Allamine Kader: Mergulhando na tradição de Amchilini no Chade

Amchilini, uma tradição chadiana que fascina e questiona. Allamine Kader, realizador chadiano, leva-nos aos bastidores desta cerimónia através do seu filme “Amchilini”, apresentado exclusivamente no Festival Internacional de Documentário de Biarritz, Fipadoc. Através de imagens magníficas e testemunhos sinceros, Allamine Kader leva-nos a Boutefil, uma aldeia situada a noroeste da capital Ndjamena, à beira do deserto. Nesta entrevista, revela-nos como descobriu esta aldeia e dá-nos a sua visão de Amchilini.

A aldeia de Boutefil, personagem central do filme, é um lugar querido ao coração de Allamine Kader. Foi conversando com o chefe do cantão, seu amigo de infância, que conheceu a história original e fascinante de Amchilini. Convencido da necessidade de preservar esta tradição e transmiti-la às gerações futuras, sugeriu ao chefe do cantão que fizesse um filme sobre o tema. Foram necessários quatro anos de discussões, pesquisas, escrita e reescrita para que o projeto finalmente se concretizasse.

O que chama a atenção no documentário “Amchilini” é a liberdade de expressão dos habitantes de Boutefil. Mulheres e homens se expressam sem restrições, como se a câmera não existisse. Para Allamine Kader, isso se explica pela importância da história contada. Amchilini é uma tradição onde as mulheres solteiras são forçadas a escolher um marido quando a aldeia passa por momentos difíceis. As mulheres sempre defenderam a sua posição, conscientes da evolução da sociedade e da emancipação das mulheres, mesmo nas aldeias mais remotas.

Amchilini desperta diversas percepções na população. Alguns vêem esta tradição como uma bênção, uma solução para afastar o infortúnio, enquanto outros consideram-na um casamento barato, com um dote mais barato. Para Allamine Kader, o objetivo de Amchilini é múltiplo. Permite aos homens perpetuar a tradição e preservar o seu património cultural. Para os magos e os marabus é uma forma de pedir a bênção de Deus para a aldeia. Mas para as mulheres é também uma forma de se sentirem diminuídas, porque o dote simbólico já não corresponde às expectativas das jovens noivas.

No seu filme, Allamine Kader explora cuidadosamente o processo Amchilini, com o seu comité organizador e as suas regras estritas a respeitar. As mulheres devem ter mais de 18 anos para participar, a hierarquia social determina a ordem de escolha das mulheres e há até multas a pagar caso elas se recusem. O seu objetivo é revelar o funcionamento desta sociedade, onde coexistem o respeito pelos princípios religiosos, as leis republicanas e as tradições ancestrais. Amchilini é uma forma de manter viva a história, pois esta tradição está desaparecendo.

Finalmente, pode Amchilini ser considerada uma tradição feminista, que dá às mulheres o poder de escolher o seu marido? Para Allamine Kader podemos ver assim, pois são as mulheres que decidem nesse processo. No entanto, ele também especifica que Amchilini é uma obrigação para as mulheres solteiras que vivem na aldeia e que pode ser visto como uma forma de rebaixar as mulheres devido ao menor dote simbólico. Os homens, por outro lado, consideram isso normal, porque podem ter várias esposas.

“Amchilini” é um filme cativante que nos mergulha no coração da tradição chadiana e nos questiona sobre o lugar das mulheres na sociedade. Allamine Kader consegue capturar de forma brilhante a essência e as nuances de Amchilini através de imagens sublimes e testemunhos autênticos. Ao promover esta tradição ancestral, convida-nos a refletir sobre a evolução das mentalidades e o papel das mulheres no nosso mundo em constante mudança.

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