**Protestos em Conacri: Um olhar sobre a dinâmica das mobilizações na Guiné**
Na segunda-feira, 6 de janeiro de 2024, a capital guineense, Conacri, voltou a ser palco de confrontos violentos, marcando uma nova escalada na luta em curso entre a oposição e a junta governante. Embora a manifestação organizada pelas Forças Vives da Guiné (FVG) tenha sido proibida, milhares de participantes se reuniram para exigir a saída de um governo militar no poder há mais de três anos. Ao microfone da Fatshimetrie, muitas vozes se levantam para denunciar não apenas a repressão, mas também a ausência prolongada de governança civil.
### Uma cena recorrente: Entre a repressão e a resiliência
Desde o golpe de estado que derrubou o presidente Alpha Condé em 2021, a Guiné continua sendo marcada por mobilizações populares. Como resultado, esse clima de tensão gerou cenários quase previsíveis: mobilizações, repressão policial e, infelizmente, violência.
Estatísticas coletadas por organizações locais indicam que pelo menos 60 pessoas perderam a vida em protestos desde o início da transição militar. Ao mesmo tempo, mais de 1.500 feridos e centenas de prisões são relatados regularmente durante esses episódios de protesto, destacando um ciclo preocupante de violência e ansiedade.
A dinâmica atual ecoa situações observadas em outros países da África Ocidental onde líderes militares tomaram o poder, como no Mali ou em Burkina Faso. Paradoxalmente, embora essas nações também tenham testemunhado movimentos populares para promover o retorno à democracia, a resposta dos governos militares tem variado. A Guiné distingue-se por uma repressão sistemática e organizada das manifestações, muito mais intensa do que a observada nos outros dois países acima mencionados que, embora repressivos, têm frequentemente concedido uma certa latitude às manifestações pacíficas.
### Uma oposição dividida enfrentando um inimigo comum
Um dos aspectos frequentemente negligenciados dessa luta é o estado da própria oposição. Embora unido em torno de um objetivo comum — a condenação da junta — o FVG está enfraquecido por diferenças internas. Os partidos que compõem essa coalizão têm agendas diferentes e métodos variados para atingir o objetivo de retornar à governança civil, o que cria tensões subjacentes.
Além disso, o exílio de alguns líderes da oposição, que buscam refúgio fora das fronteiras da Guiné para escapar da repressão, enfraquece ainda mais sua capacidade de mobilizar efetivamente a população. Isso coloca em questão o futuro da coalizão e a unidade que muitas vezes é apresentada nos discursos.
### Uma sociedade civil sob pressão
Além dos partidos políticos, a sociedade civil desempenha um papel crucial neste contexto. As organizações não governamentais, os sindicatos e os movimentos juvenis estão cada vez mais activos no apelo à mobilização. No entanto, esta pressão também está a conduzir a uma resposta mais dura por parte das autoridades, ameaçando a liberdade de expressão e o direito de reunião.
O recente caso de detenções de figuras emblemáticas dos movimentos sociais mostra que a junta não deixa nada ao acaso para manter o seu controlo. No entanto, estudos sociológicos mostram que a participação dos jovens, que constituem um número significativo da população guineense, está a aumentar. Isto poderia pressagiar uma evolução nas mobilizações: as novas gerações parecem mais determinadas a reivindicar os seus direitos e a participar na transformação sociopolítica do seu país.
### O impacto econômico dos protestos
Além disso, o impacto económico dos protestos não pode ser subestimado. As perturbações no comércio e nos transportes causadas pelos protestos estão a enfraquecer ainda mais uma economia já frágil. O sector mineiro, um pilar da economia guineense, é particularmente vulnerável a instabilidades políticas e os investidores estrangeiros, preocupados com as convulsões, podem afastar-se do país. Esta situação poderá agravar a crise económica e prejudicar as perspectivas de desenvolvimento a longo prazo.
### Quais soluções para o futuro?
A complexidade da situação guineense exige um diálogo inclusivo que envolva todas as partes: a oposição, a sociedade civil e a junta. Os intervenientes internacionais, incluindo organizações regionais como a CEDEAO, devem intensificar os seus esforços para facilitar este diálogo. A experiência de outros países da região mostra que as transições pacíficas são possíveis quando os intervenientes estão dispostos a negociar e a construir consenso sobre questões fundamentais para o futuro democrático.
É essencial restaurar a confiança entre os cidadãos guineenses, não só garantindo a segurança, mas prometendo reformas sérias e estabelecendo diálogos transparentes. Isto poderá eventualmente abrir caminho a eleições democráticas que, neste momento, ainda parecem muito distantes.
Em suma, os acontecimentos em Conacri demonstram uma tensão palpável entre o desejo de mudança e a resistência feroz daqueles que estão no poder. Os desafios que a Guiné enfrenta são colossais, mas o espírito de resiliência e a sede de democracia do seu povo apontam para um futuro potencialmente diferente, desde que a voz de todos seja ouvida no processo.