No centro da notícia ressoa o eco de um regresso ao mesmo tempo simbólico e impregnado de história: o dos restos mortais de dois jovens convertidos do Uganda, designados mártires por terem permanecido firmes na sua fé católica, mesmo sob risco de morte. suas vidas há mais de um século. Canonizadas em 1960, as suas relíquias permaneceram no Vaticano desde então, mas neste outono foram repatriadas para Kampala para exibição pública.
Num ambiente marcado pelo respeito e solenidade, Muhido Brian Kihemu guia os visitantes pela exposição, mostrando com orgulho o maxilar de Mathias Mulumba e o fémur de Charles Lwanga, que outrora estiveram ao serviço da corte real de Buganda. Ambos estiveram entre os primeiros ugandenses a abraçar a fé cristã após a chegada dos missionários em 1879, contribuindo assim para a difusão do catolicismo na região.
A emoção é palpável na sala quando Sansão, um jovem seminarista, se ajoelha diante das relíquias sagradas. Para ele, prestar homenagem a estes mártires, executados em 1885 por ordem do rei de Buganda, tem um significado profundo, quase vital. “A sua coragem e determinação em permanecer fiéis à sua fé, apesar das pressões e ameaças, são uma fonte inesgotável de inspiração”, confidencia, com os olhos brilhando de admiração e respeito.
A história destes mártires ugandeses, longe de ser uma simples lenda piedosa, revela uma dimensão política complexa e perturbadora. Os primeiros missionários, acolhidos favoravelmente pelo rei da época, rapidamente se viram em conflito com os poderosos do reino, temendo a sua crescente influência junto ao soberano. A decisão de eliminar os jovens convertidos não foi um simples ato religioso, mas uma estratégia destinada a preservar o poder existente.
Após a sua brutal execução e martírio pela sua fé, os restos mortais de ambos os homens foram preservados, quase milagrosamente, ao longo dos séculos. O seu reaparecimento em Kampala, décadas após a sua canonização, desperta uma nova onda de devoção e admiração pela sua herança espiritual e pelo seu sacrifício final.
Ao contemplarem estas relíquias e ouvirem a comovente história das suas vidas e mortes, os visitantes são convidados a refletir sobre a força da fé, a resiliência face à adversidade e o poder transformador da coragem. Os mártires ugandeses, muito mais do que simples figuras históricas, continuam a ser exemplos vivos de dedicação absoluta às próprias convicções, mesmo à custa da vida.