Seca no sul de Madagascar: mulheres esperando para pesar seus filhos
Na paisagem árida do sul de Madagáscar, um grupo de mulheres procura abrigo do sol escaldante à sombra de uma árvore. Eles esperam pacientemente a sua vez, segurando os filhos nos braços, para pesá-los. Isto pode parecer uma tarefa rotineira, mas face ao agravamento da seca e da crise climática, assumiu um novo nível de urgência.
Madagáscar, um dos países mais pobres do mundo, tem-se confrontado com chuvas fracas desde Outubro. Os efeitos das alterações climáticas, combinados com o padrão climático El Niño, criaram uma tempestade perfeita de desafios para a nação insular.
Reena Ghelani, coordenadora das Nações Unidas para a crise climática para a resposta ao El Niño, enfatiza a gravidade da situação: “Madagascar enfrenta agora a crise climática”. O país é particularmente susceptível a fenómenos meteorológicos extremos, tais como secas e tempestades, que se prevê que aumentem em frequência e intensidade devido às alterações climáticas.
Já sobrecarregados com a pobreza e a subnutrição generalizadas, pelo menos 1,3 milhões de pessoas em Madagáscar sofrem actualmente de nutrição inadequada. Nos últimos anos, a região sul sofreu a pior seca dos últimos quarenta anos, deixando vastas extensões de terra estéreis e improdutivas. A situação deverá piorar em 2024, com as previsões a preverem um ano ainda mais seco, levantando preocupações para a próxima época de colheita.
Para as mulheres reunidas debaixo da árvore, as consequências da seca são muito reais. Nasolo, uma mãe que espera para pesar o filho, lamenta: “Não cresce nada na nossa terra. Tudo o que plantamos acaba caindo. É por causa de tudo isso que sofremos”. A falta de chuvas devastou colheitas e deixou as comunidades sem alimentos suficientes para se sustentarem.
Arisoa, outra mãe do grupo, compartilha suas próprias lutas. Há três meses, ela descobriu que seu filho de um ano estava gravemente desnutrido. Agora, ela vem ao centro comunitário na aldeia de Manindra a cada duas semanas para fazer exames. Enquanto espera, Arisoa expressa sua frustração: “Eu deveria dar a ele peixe, banana e abacaxi. Mas não temos meios e não temos comida suficiente. A chuva não está caindo”.
O impacto das alterações climáticas não se limita a Madagáscar. Globalmente, 2023 foi registado como o ano mais quente já registado, de acordo com a Organização Meteorológica Mundial, e este ano dá sinais de ser ainda mais quente. O padrão climático El Niño que ocorre naturalmente agrava as temperaturas globais, colocando desafios adicionais a regiões vulneráveis como Madagáscar.
Reena Ghelani destaca a importância dos sistemas de alerta precoce para detectar riscos climáticos e fornecer ajuda atempada. Esta ajuda pode vir na forma de sementes, alimentos e apoio financeiro. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) já está a trabalhar para ajudar os agricultores em Madagáscar. Utilizando uma aplicação telefónica que compila dados agrometeorológicos, os agricultores podem prever melhor a precipitação e tomar decisões informadas sobre o plantio.
Alguns agricultores também recorreram a sementes resistentes à seca para mitigar o impacto das condições de seca. Ialy Tsivonanomby, um vendedor de sementes, explica a sua escolha de cultivar milho-miúdo: “Escolhi cultivar milho-miúdo porque é nutritivo e não precisa de muita água para crescer”. Estas estratégias adaptativas oferecem esperança às comunidades que lutam para lidar com os efeitos das alterações climáticas.
Em conclusão, a seca no sul de Madagáscar pinta um quadro sombrio da crise climática que assola o país. Com a escassez de chuvas, o agravamento da fome e as comunidades em risco, são necessárias medidas urgentes para mitigar o impacto das alterações climáticas. Os sistemas de alerta precoce e as técnicas agrícolas adaptativas oferecem vislumbres de esperança, mas são necessários esforços globais concertados para abordar as causas subjacentes e apoiar as comunidades vulneráveis face a um futuro incerto.