Qual é a realidade por trás da redução pela metade do número de prisioneiros na prisão de Makala: uma reforma real ou apenas um golpe publicitário?

**Reformas prisionais na República Democrática do Congo: uma mudança em direção à justiça restaurativa ou apenas uma moda passageira?**

O recente anúncio do Ministro de Estado da Justiça, Constant Mutamba, sobre a redução drástica do número de reclusos no Centro Penitenciário de Reeducação de Kinshasa (CPRK), mais conhecido como Prisão Central de Makala, levanta questões essenciais sobre o Estado. do sistema prisional na República Democrática do Congo (RDC). De fato, a queda nos números, de mais de 16.000 presos em junho de 2024 para cerca de 8.000 em janeiro de 2025, parece representar um esforço sustentado para aliviar o congestionamento em um estabelecimento penitenciário emblemático. No entanto, essa situação merece uma análise mais aprofundada, tanto por suas implicações quanto por suas comparações internacionais.

### Um contexto histórico marcado pela superpopulação

Criada em 1957 durante o regime colonial belga, a prisão de Makala enfrentava uma superlotação preocupante, atingindo níveis entre os mais alarmantes do continente africano. Com capacidade autorizada para 1.500 detentos, o presídio tem sido palco recorrente de condições de vida desumanas, com denúncias constantes de situações em que os detentos foram privados dos recursos mais básicos, como acesso à alimentação, água potável e até mesmo assistência médica. Essas condições terríveis levaram até mesmo a revelações escandalosas transmitidas pelo jornalista Stanis Bujakera, que, como ex-presidiário, destacou práticas inaceitáveis ​​dentro da prisão, que ele descreveu como uma verdadeira “rejeição da ‘humanidade'”.

### Redução de prisioneiros: um símbolo ou uma solução duradoura?

Embora a redução no número de prisioneiros possa parecer um passo positivo à primeira vista, é crucial questionar os mecanismos que permitiram essa redução. As políticas de libertação condicional e descongestionamento, iniciadas em resposta a relatos de maus-tratos, levantam questões sobre sua sustentabilidade. Elas são realmente o resultado de uma reforma estrutural ou simplesmente uma medida pontual destinada a apaziguar os críticos? A luta contra a superlotação poderia levar a reformas mais amplas destinadas a melhorar profundamente as condições de detenção?

A comparação com outros sistemas prisionais, como os dos países escandinavos, onde a reintegração é a força motriz por trás das reformas prisionais, destaca a ausência de uma abordagem realmente centrada no ser humano na RDC. Nestes países, a taxa de reincidência permanece abaixo dos 30%, em comparação com mais de 60% na RDC, o que sugere que a simples redução do número de prisioneiros, sem medidas de acompanhamento, como formação profissional ou apoio psicológico, não será suficiente para mudar significativamente coisas.

### Os desafios da reforma prisional

Uma transformação das condições de vida nas prisões deve levar em conta não apenas o número de prisioneiros, mas também a qualidade da assistência médica, a segurança e o respeito aos direitos humanos. O Ministro Mutamba mencionou iniciativas para construir novas prisões, o que pode sugerir um desejo de expandir a infraestrutura. No entanto, isso pode ser parte de uma ilusão de melhoria sem questionar profundamente as práticas existentes.

A falta de funcionários prisionais devidamente treinados e a falta de recursos em Makala também exigem atenção especial. A gestão da segurança pelos próprios presos, na ausência de policiais ou guardas, constitui um ambiente propício para abusos e corrupção. É, portanto, essencial que qualquer reforma prevista seja acompanhada de medidas concretas para formar e remunerar adequadamente os funcionários prisionais, tanto para garantir a segurança como para garantir a dignidade dos reclusos.

### Uma oportunidade para transformar a face da justiça na RDC

Os desenvolvimentos recentes representam uma oportunidade inestimável para a RDC repensar sua abordagem às prisões. Os esforços de reforma devem se concentrar em melhorar a infraestrutura, a igualdade de direitos e o estabelecimento de um sistema de justiça restaurativa baseado em reparações, não em punições.

O discurso de uma forte vontade política de reforma, como o de Constant Mutamba, deve ser apoiado por ações concretas, investimentos significativos e um compromisso de longo prazo. A comunidade internacional, as ONGs e os atores locais devem desempenhar um papel crucial na promoção de uma transformação duradoura, tanto nas prisões quanto no sistema de justiça criminal.

Concluindo, embora a RDC pareça estar tomando medidas para melhorar suas condições prisionais, essas mudanças precisam ser tomadas com cautela analítica. A eficácia das reformas não determinará apenas a situação dos presos, mas também a credibilidade de um sistema judicial que busca legitimidade e respeito aos direitos fundamentais. O caminho será longo, mas cada passo adiante conta, desde que seja verdadeiramente liderado por uma visão global e humana centrada na dignidade das pessoas.

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