## A RDC enfrenta a sombra do apoio ruandês ao M23: um apelo à comunidade internacional
Em 9 de janeiro, durante uma coletiva de imprensa em Kinshasa, a tensão palpável entre a República Democrática do Congo (RDC) e Ruanda atingiu o clímax. Acusações de apoio ruandês ao movimento rebelde M23, que devastou o leste do país desde seu surgimento, tornaram-se uma acusação inevitável no discurso diplomático da RDC. A Ministra de Estado das Relações Exteriores, Thérèse Kayikwamba, não mediu palavras ao criticar o “silêncio esmagador” da comunidade internacional diante das violações denunciadas há anos.
### Uma observação amarga: a impunidade dos atores regionais
A RDC reforçou recentemente sua defesa junto aos organismos internacionais, apontando uma observação amarga: a ausência de sanções contra Ruanda, apesar do acúmulo de evidências detalhadas no relatório dos especialistas das Nações Unidas. Ao listar os abusos cometidos e insistir na necessidade de sanções específicas contra indivíduos comprometidos, o governo congolês busca erguer um muro de proteção para sua soberania nacional.
Essa acusação de apoio a um grupo rebelde não é nova. O M23, que já havia causado estragos em 2012 e 2013, ressurgiu em 2021 sob um céu diplomático obscurecido pelo tenso clima geopolítico nos Grandes Lagos africanos. A RDC tem sido vítima há muito tempo das ambições expansionistas de Kigali, firmemente ancoradas em um contexto histórico tumultuado marcado por guerras civis e genocídios.
### As questões geoestratégicas subjacentes
Para entender melhor essa crise, é necessário explorar as questões geoestratégicas que a fundamentam. Kivu, uma região rica em recursos naturais como coltan e ouro, representa um interesse crucial para vários atores, tanto nacionais quanto estrangeiros. O controle desses recursos é frequentemente uma das razões apresentadas para explicar a extensão do conflito. Uma análise aprofundada dos fluxos econômicos e das parcerias comerciais nessa área mostra que os destinatários dos minerais extraídos muitas vezes alimentam circuitos ilegais, tornando a RDC vulnerável, ao mesmo tempo em que permitem que certos países se beneficiem dela sem se envolverem no pântano diplomático.
### Um paradoxo: cumplicidade implícita
Thérèse Kayikwamba também denunciou a hipocrisia de países que defendem os direitos humanos enquanto permanecem estranhamente silenciosos diante das atrocidades cometidas na RDC.. Esse paradoxo levanta questões sobre a governança global: por que alguns conflitos são mais visíveis do que outros? Por que os direitos humanos em algumas regiões do mundo parecem estar sujeitos à geopolítica e aos interesses econômicos das potências? Este silêncio, que o ministro congolês descreve como “cumplicidade implícita”, pode prejudicar não só a RDC, mas também a estabilidade regional do continente africano.
### Rumo a soluções sustentáveis: um apelo à acção concreta
As recomendações da RDC, apresentadas por Kayikwamba, devem ser tomadas como um alerta para mudanças tangíveis. Sanções específicas poderiam de fato dissuadir não apenas o regime ruandês, mas também outros atores regionais envolvidos em ações semelhantes. O respeito pelo direito internacional não deve ser um mero desejo piedoso, mas deve estar no centro da diplomacia contemporânea.
A RDC também poderia se beneficiar de uma rede mais forte com seus países vizinhos, unindo suas vozes para construir uma nova narrativa regional que preserve a soberania e a segurança de todos. O engajamento coletivo pode ser o catalisador necessário para abordar questões conhecidas e desconhecidas.
### Conclusão
Em suma, a RDC se encontra em uma encruzilhada onde as escolhas feitas agora determinarão não apenas seu futuro, mas também como a comunidade internacional abordará as crises na África. A declaração do Ministro Kayikwamba é mais do que apenas um pedido de ajuda; Representa um desejo de quebrar o ciclo de impunidade que persiste há muito tempo nesta região vitimizada. Além de medidas punitivas, este é um apelo urgente à conscientização coletiva da responsabilidade de cada ator, tanto nacional quanto internacional, de finalmente considerar as consequências de suas ações passadas e presentes.
Permanecer em silêncio diante desses abusos é ser cúmplice da repetição da história, e esse é um fenômeno que a comunidade internacional não pode mais ignorar.