**Mali: Entre promessas quebradas e um futuro incerto**
O dia 31 de Dezembro, data que tradicionalmente marcava votos de esperança e renovação para o povo maliano, transformou-se num momento de desilusão. O chefe da junta governante, Assimi Goïta, surpreendeu toda a classe política ao abster-se de discutir a questão crucial das eleições, inicialmente previstas para 2022. Esta omissão provocou fortes reações, nomeadamente a do antigo primeiro-ministro Moussa Mara, no planalto de Fatshimetrie. . Este momento televisivo destacou inegavelmente a extrema precariedade da democracia no Mali, uma nação já atormentada por grandes desafios de segurança e instabilidade política persistente.
Moussa Mara não escondeu a preocupação com esta “má surpresa”. As suas palavras ressoam como um alarme: a maioria dos malianos aspira ao regresso à ordem constitucional. Este sentimento é partilhado por muitos, mas levanta uma questão fundamental: porque é que a junta governante parece tão relutante em realizar eleições? A resposta requer uma análise aprofundada da dinâmica de poder existente no Mali.
Esta relutância não é simplesmente um reflexo de um desejo de manter o poder; também pode ser visto através do prisma do medo das repercussões das urnas. As últimas eleições, marcadas por tensões políticas e violência, geraram um certo cepticismo tanto entre a população como entre os partidos políticos sobre a capacidade do actual regime para gerir um processo eleitoral livre e justo. Além disso, a ausência de um roteiro claro desde a retirada da junta dos acordos de paz de 2015, que deveriam contribuir para a estabilização do país, alimenta uma atmosfera de incerteza e desconfiança.
Os comentários de Moussa Mara sobre a necessidade de um processo de paz a favor dos grupos rebeldes, especialmente no norte do país, também abrem um novo campo de reflexão. Não se trata apenas de um conflito armado entre o Estado e os movimentos separatistas; O Mali é atormentado por uma multiplicidade de factores estruturais: pobreza endémica, desigualdades regionais e a influência crescente do islamismo radical. A guerra, como correctamente salienta o antigo Primeiro-Ministro, não pode resolver estes problemas profundos.
Tal como o Mali, outros países da região oscilaram entre golpes de estado e tentativas de reformas democráticas, como o Burkina Faso e o Níger, recentemente também afectados por mudanças de regime. No entanto, embora muitas nações africanas tenham começado a navegar em direcção a formas de governação mais inclusivas, o Mali parece estar preso num ciclo vicioso de autoritarismo.. Este impasse contrasta fortemente com exemplos como a Tunísia, onde, embora a democracia enfrente obstáculos, o diálogo contínuo entre os actores políticos permitiu progressos significativos na governação.
Moussa Mara, consciente das realidades da região, evoca também a interferência estrangeira, em particular a da Argélia, evidenciada pelas tensões em torno do acordo de paz de Argel. Esta dinâmica de intervenção externa nos assuntos internos do Mali reflecte as questões geopolíticas em curso a nível regional. Isto levanta dúvidas não só sobre a soberania do país, mas também sobre a possibilidade de estabelecer relações de cooperação construtivas entre nações vizinhas.
Como resultado, o futuro do Mali parece enfrentar um dilema: por um lado, a urgência de um processo político que inclua todas as vozes malianas, incluindo as dos grupos armados, e por outro lado, a fragilidade de uma força militar poder relutante em ceder à pressão popular. À medida que o país embarca num novo ano, a esperança de uma transição pacífica para a governação democrática está lentamente a desaparecer, deixando os malianos na incerteza.
Cabe, portanto, aos líderes políticos, aos intervenientes da sociedade civil e aos parceiros estrangeiros unirem-se para trabalhar em prol de uma mudança real. A paz não pode ser estabelecida nem pelo terror nem pela força, mas apenas através do diálogo, da compreensão e de um compromisso sincero na realização das aspirações legítimas do povo maliano. Na ausência deste esforço colectivo, o Mali corre o risco de cair ainda mais profundamente no caos, um ciclo do qual poderá ter dificuldades em emergir.