**Kinshasa no inverno: as festividades dos escravos da “Kuluna” e o desafio da segurança urbana**
Na noite de 31 de dezembro para 1º de janeiro, enquanto milhões de congoleses celebravam o Ano Novo na esperança de dias melhores, uma sombra preocupante pairava sobre certos bairros de Kinshasa. Os territórios de Livulu, Righini e Salongo se viram sob o jugo dos “Kuluna”, esses jovens delinquentes que, no final de cada ano, transformam o festival em um pesadelo para muitos cidadãos. O contraste entre os desejos festivos e a realidade violenta que marcou esse período evidencia um problema mais amplo: o combate à delinquência juvenil e a segurança em uma grande metrópole que enfrenta desafios econômicos e sociais.
### Uma realidade alarmante
As estatísticas sobre violência urbana na África Subsaariana, e mais especificamente na República Democrática do Congo (RDC), são preocupantes. De acordo com um relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), quase 80% dos jovens nas áreas urbanas da RDC vivem em condições de pobreza. Essas condições, combinadas com a falta de oportunidades de emprego e o acesso limitado à educação, levam alguns jovens a se juntarem às fileiras da “Kuluna”.
Os incidentes ocorridos durante essas festividades não são um fenômeno isolado, mas sim o resultado de um acúmulo de frustrações sociais. De fato, a violência da “Kuluna” pode ser vista como um grito do coração de um jovem abandonado, buscando desesperadamente uma maneira de existir em uma sociedade onde as perspectivas futuras parecem obscuras. Para eles, o crime se torna então um meio de aquisição não apenas de bens materiais, mas também uma forma de poder e reconhecimento em uma sociedade muitas vezes considerada injusta.
### Uma Reação das Autoridades: Entre a Prevenção e a Repressão
O envio de forças de segurança pelo vice-primeiro-ministro e ministro do Interior, Jacquemin Shabani, parece ser uma resposta imediata a esta emergência. Embora coibir a violência seja essencial no curto prazo, essa abordagem não deve obscurecer a importância de reformas sistemáticas nas políticas sociais, educacionais e econômicas.
É crucial que o governo congolês invista em programas de reintegração social e iniciativas de engajamento comunitário. A Operação Cordão, que levou à prisão de 450 suspeitos de “Kuluna”, deve ser acompanhada de vontade política para transformar o sistema escolar e incentivar atividades geradoras de renda para os jovens. Somente por meio de uma abordagem holística que integre soluções econômicas e sociais a tranquilidade e a segurança poderão ser efetivamente restauradas..
### Rumo a uma renovação social
As recentes ondas de violência, como as observadas durante o Ano Novo, devem alertar a opinião pública para o papel central da juventude na dinâmica da segurança urbana. Em vez de estigmatizá-los, é urgente redefinir a nossa percepção dos jovens delinquentes. Os “Kuluna” não são apenas criminosos; eles também são vítimas das circunstâncias. Uma experiência comparativa com outros países africanos – como a África do Sul com os seus programas de reabilitação para jovens infratores – poderia inspirar modelos adaptados à RDC.
Através da colaboração com ONG, organizações privadas e instituições internacionais, o país pode quebrar o ciclo de violência e impunidade. Criar espaços de escuta, integração e diálogo dará voz a estes jovens, tirá-los-á das ruas e, acima de tudo, oferecer-lhes-á perspectivas de futuro. Os sucessos dos programas de educação alternativa noutras partes de África mostram que soluções inovadoras podem verdadeiramente transformar a vida dos jovens em dificuldade.
### Conclusão: Uma Nova Visão para Kinshasa
A “situação Kuluna” já não pode ser compreendida apenas através do prisma da repressão. Torna-se imperativo investir no futuro destes jovens em perigo. A resposta deve ser colectiva, baseada em acções individuais e comunitárias. Como sociedade, devemos trabalhar para repensar a nossa abordagem à segurança. Isto envolve reflectir verdadeiramente sobre as causas subjacentes da delinquência juvenil e como podemos, juntos, mudar a narrativa que rodeia a juventude congolesa.
Kinshasa, para além das festividades, merece uma visão renovada onde cada jovem possa sonhar com um futuro melhor, longe da violência e do medo. Cada voz conta neste processo; comprometamo-nos a construir uma sociedade onde a esperança substitua o desespero, onde a solidariedade eclipse a indiferença, e onde cada Kinshasiano possa redescobrir a alegria das celebrações sem a ameaça de “Kuluna”.