Porque é que Félix Tshisekedi tem de escolher entre a repressão e os direitos humanos face à ameaça de execuções na RDC?

### A RDC numa encruzilhada: Repressão ou direitos humanos?

A República Democrática do Congo (RDC) está novamente sob ataque na sequência do polémico anúncio do Ministro da Justiça, que prevê a execução de mais de 170 pessoas suspeitas de ligações a gangues criminosas. A Amnistia Internacional apela ao fim imediato destas práticas, revelando as ameaças aos direitos humanos no país.

Desde que a pena de morte foi suspensa em 2003, a RDC mergulhou num intenso debate sobre a sua aplicação, exacerbado pelo aumento da violência urbana. O envio de detidos para a prisão de Angenga, descrita como um “gulag moderno”, levanta preocupações sobre as condições de detenção e os direitos dos presos, sendo a maioria encarcerada sem julgamento.

Numa altura em que outras nações africanas estão a tomar medidas para abolir a pena de morte, o Presidente Félix Tshisekedi vê-se confrontado com um desafio crucial: escolher entre práticas repressivas ou abraçar um futuro centrado nos direitos humanos e na reabilitação. A direcção que a RDC tomar nos próximos meses poderá destacar o caminho para a justiça e a reconciliação, ou mergulhar ainda mais o país na sombra da repressão indiscriminada.
### Execuções na RDC: entre a sombra da repressão e os direitos humanos

A República Democrática do Congo (RDC), muitas vezes vista como uma área de conflito e tensão, está mais uma vez no centro das atenções devido a decisões controversas tomadas pelas suas autoridades. O recente anúncio do Ministro da Justiça, Constant Mutamba, relativamente à transferência de mais de 170 indivíduos suspeitos de filiação em gangues criminosas para a prisão de Agenga para possíveis execuções em massa, provocou indignação global. A Amnistia Internacional fez ouvir claramente a sua voz, apelando ao fim imediato destas práticas, assinalando as crescentes ameaças aos direitos humanos no país.

#### A pena de morte: uma espada de Dâmocles

Historicamente, a RDC sempre esteve envolvida num debate acalorado em torno da pena de morte. De acordo com as últimas estatísticas disponíveis, embora a pena de morte esteja oficialmente suspensa desde 2003, continuam a ser relatadas execuções de facto. Isto levanta uma questão crucial: porque é que mantemos um sistema judicial que parece ignorar o quadro jurídico existente? A resposta pode estar no contexto de insegurança crónica no país, onde as autoridades se sentem sob pressão face aos frequentes actos de violência atribuídos a bandidos de rua conhecidos como “Kuluna”.

O anúncio de Mutamba, no dia 3 de Dezembro, de que as sentenças de morte seriam executadas de acordo com os preceitos bíblicos, realça uma tendência preocupante: a justiça está a tornar-se um instrumento político para gerir o medo dos cidadãos. Este regresso aos métodos de execução parece servir dois objectivos principais: satisfazer um público que deseja segurança e enviar uma mensagem forte a potenciais criminosos. Mas a que custo? Ao universalizar esta lógica, o governo abre a porta a uma espiral de violência e impunidade.

#### Gulags modernos: um sistema prisional em crise

A prisão de Angenga, para onde os detidos são enviados, é descrita pela Amnistia como um local de extremo sofrimento, com relatos de que dezenas de detidos estão a morrer de fome e doenças. Comparado com outros sistemas prisionais em todo o continente, o caso Angenga ilustra o fracasso de um sistema que pretendia reformar. Por exemplo, a Mauritânia implementou extensas medidas de reabilitação nas suas prisões para reduzir as taxas de reincidência, um forte contraste com a abordagem punitiva da RDC.

Esta situação levanta questões sobre os direitos dos prisioneiros. Cerca de 80% das pessoas encarceradas na RDC não foram julgadas, agravando um sistema judicial já frágil. A lógica da tolerância zero ao crime, embora popular, contorna os próprios fundamentos do Estado de Direito. Os governos de outros países africanos, como o Ruanda, demonstraram que o desenvolvimento de programas de reintegração e reabilitação pode reduzir o medo do crime, preservando simultaneamente os direitos humanos.

#### Uma oportunidade perdida de mudança

A declaração da Amnistia não só reflecte uma necessidade urgente de reforma, mas é também um apelo à acção para a comunidade internacional. Numa situação de emergência, a pressão externa poderia encorajar a RDC a reconsiderar a sua posição sobre a pena de morte, especialmente no meio de um debate global sobre a abolição desta prática. Vários países, como o Quénia e o Burkina Faso, já demonstraram que podem ser tomadas iniciativas no sentido de uma moratória, abrindo caminho a um diálogo sobre a abolição definitiva.

O Presidente Félix Tshisekedi, como líder na política e nos direitos humanos, encontra-se numa encruzilhada crucial. A invocação de uma moratória sobre as execuções poderia trazer uma lufada de ar fresco à sua imagem internacional e à confiança dos congoleses nas suas instituições. Para além das questões políticas, este apelo poderá deixar um legado duradouro e marcar uma evolução no sentido de um quadro mais respeitador dos direitos fundamentais.

#### Conclusão: rumo a uma RDC reconciliada com os seus valores

A situação actual na RDC revela as tensões que existem entre a segurança pública e os direitos humanos. À medida que o governo continua a depender de medidas repressivas para controlar a insegurança generalizada, é imperativo que nos perguntemos que tipo de sociedade queremos construir. A atualização das políticas criminais, o investimento no sistema de justiça e a promoção de uma cultura de diálogo poderão abrir novos caminhos para o país.

Em suma, é essencial voltar a clarificar o rumo que a RDC irá tomar: o obscurantismo repressivo ou a luz de um futuro baseado nos direitos fundamentais? A resposta a esta questão, ditada pelas ações das autoridades para com os seus cidadãos, poderia muito bem definir o trauma ou a reconciliação de um povo que procura justiça num cenário de incerteza.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *