**Camarões: Os mistérios do registo eleitoral e o desafio de uma democracia em equilíbrio**
Em 30 de dezembro de 2024, a Election’s Cameroon (Elecam) revelou os números atualizados de seu registro eleitoral, um momento crucial antes da eleição presidencial de 2025. Com 7.845.622 eleitores regularmente registrados, esse número imediatamente causou um alvoroço no cenário político camaronês, levantando questões sobre a transparência dos processos eleitorais. Além dos debates acalorados em torno desses números, uma questão real se levanta: a da confiança do povo camaronês em suas instituições democráticas.
### Um anúncio controverso
Assim que a Elecam anunciou, Jean Michel Nintcheu, um importante ator político e apoiador de Maurice Kamto, fez sua voz ser ouvida com uma virulência que atraiu atenção. Ele afirma que o anúncio dos números nada mais é do que uma “declaração de guerra”, acusando a Elecam de manipulação e opacidade na gestão das listas de eleitores. A não exibição das listas, conforme as exigências legais, fortalece seu argumento: para ele, essa abordagem contribui para alimentar um clima de desconfiança em relação à instituição responsável pela fiscalização do processo eleitoral.
### O Impacto dos Números nas Eleições
Os números mencionados levantam a questão das expectativas sociais. Os atores políticos acreditam, logicamente, que um país como Camarões, com uma população jovem e dinâmica, deveria ter um registro eleitoral muito maior. Um potencial de cerca de 15 milhões de eleitores, segundo estimativas, continua amplamente subexplorado. Essa lacuna evidencia questões estruturais, tanto em termos de registro quanto de conscientização sobre a importância do voto.
### A diáspora, um esquecimento eleitoral
Outro elemento preocupante emerge dessa situação: o número de eleitores na diáspora, que é de apenas 26.800. Comparado à população camaronesa que vive no exterior, esse número parece irrisório e reflete uma gestão de atos de registro estrangeiro complexos. O que levanta uma questão crucial: como podemos incentivar os camaroneses no exterior a se registrarem para votar, quando o caminho parece cheio de armadilhas? Numa era em que a tecnologia deveria facilitar os processos, como a Elecam pode alegar tamanha fragilidade no registro de eleitores espalhados pelo mundo?
### Rumo a uma mobilização coletiva
Hubert Kamga, especialista em questões eleitorais, pede mobilização geral entre agora e o prazo final das eleições. Ao destacar a ambição de atingir, ou mesmo ultrapassar, 10 milhões de membros registrados, ele ressalta o papel de todos na construção de uma democracia real, pronta para enfrentar os desafios contemporâneos. Eis o desafio: uma campanha de conscientização e uma colaboração real entre atores políticos, sociedade civil e instituições podem transformar essa dinâmica..
### Uma reflexão sobre a democracia camaronesa
Os debates em torno destes números e a sua recepção provocam uma reflexão mais ampla sobre a democracia nos Camarões. A confiança entre as pessoas e as suas instituições é essencial. As suspeitas de manipulação de dados eleitorais poderão – se não forem tratadas com a maior transparência – minar a legitimidade dos futuros resultados eleitorais.
Tendo em conta as lições aprendidas noutros contextos africanos, como na Costa do Marfim ou no Burkina Faso, onde problemas semelhantes de transparência levaram a conflitos e tensões, os Camarões devem ter cuidado para não cair na mesma situação. Uma democracia saudável depende de processos eleitorais claros e transparentes, onde todas as vozes contam e todos os cidadãos se sentem capacitados para participar no processo de tomada de decisões.
### Para concluir
O anúncio da Elecam constitui uma encruzilhada para os Camarões. Este momento crítico convida a questionar as práticas atuais e a refletir sobre o envolvimento cívico. Para que as eleições presidenciais de 2025 sejam um ponto de viragem decisivo para uma democracia sustentável, será imperativo garantir não só a transparência dos números, mas também a mobilização activa e a participação de todos os cidadãos no processo eleitoral. Porque, em última análise, uma democracia forte é aquela que depende da representação autêntica dos seus cidadãos, seja dentro ou fora das fronteiras.