Lula e Zuma: dois destinos políticos contrastantes

O artigo relata a marcante prisão de Luiz Inácio Lula da Silva no Brasil em 2018, seguida de sua libertação triunfante e reeleição em 2022. Em seguida, compara os acontecimentos em torno de Lula com aqueles em torno de Jacob Zuma na África do Sul, destacando as diferenças entre os dois líderes e destacando os desafios do combate à corrupção e às desigualdades sociais nestes dois países. Esses acontecimentos cativantes permanecem gravados na história política e provocam reflexão sobre o impacto dos líderes na sociedade.
Fatshimetria: A imagem de Luiz Inácio Lula da Silva durante evento político no Brasil em 1994

Luiz Inácio Lula da Silva é uma figura icônica da política brasileira, cuja ascensão começou em 1979, quando liderou uma greve dos metalúrgicos durante a ditadura militar que governou o Brasil de 1964 a 1985. Fundador do Partido dos Trabalhadores (PT) em 1980, ele foi eleito presidente em 2003 e reeleito em 2007 para um segundo mandato que terminou em 2011. Depois de ficar preso injustamente por 580 dias em 2018 e 2019, conseguiu vencer Jair Bolsonaro para ser reeleito presidente em 2022.

Na recente biografia de Fernando Morais intitulada “Lula”, a história abre com uma cena de tirar o fôlego que lembra momentos de tensão de um romance de John le Carré. No dia 5 de abril de 2018, dia sombrio, no Instituto Lula, em São Paulo, chegou uma notícia chocante: foi expedido um mandado de prisão contra Lula.

A mídia corre para o instituto de moto, carro e helicóptero, seguida por uma multidão de pessoas com opiniões divergentes: uns para defender Lula, outros para se alegrar com sua prisão iminente. Uma escaramuça começa, deixando um homem inconsciente com a testa ensanguentada.

Dentro do instituto, decidiu-se levar Lula até a sede do sindicato dos metalúrgicos, a 20 quilômetros de distância. Lula é evacuado pela porta dos fundos e levado para o meio da multidão enfurecida que chuta o carro, bate bandeiras brasileiras em postes, joga fogos de artifício e canta “Lula, o ladrão”, enquanto helicópteros sobrevoam perigosamente. O cortejo que acompanha Lula leva João Pedro Stédile e João Paulo Rodrigues, lideranças do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.

Ao chegarem à sede sindical, centenas de trabalhadores, além de ativistas, intelectuais e artistas, abriram passagem para Lula. Guilherme Boulos, filósofo e líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), correu para a sede, chamando pelo caminho os responsáveis ​​por uma ocupação de terras alinhada ao MTST que abriga 8 mil famílias. É organizada uma assembleia e aprovada a proposta de marcha até a sede do sindicato.

Em pouco tempo, mais de 10 mil pessoas reuniram-se em frente à sede, entre “intelectuais, atores de televisão e cinema, freiras, rappers”, escreve Morais.

Dois dias depois, para evitar um confronto violento entre a polícia e os seus apoiantes, Lula rendeu-se e foi levado para a prisão. As acusações forjadas de corrupção que causaram seu encarceramento são anuladas em 8 de março de 2021.

Os leitores sul-africanos da biografia de Morais serão inevitavelmente lembrados da noite de 7 de Julho de 2021, quando Jacob Zuma foi transportado no último minuto de Nkandla para Estcourt para começar a cumprir uma pena de prisão.

Tal como no Brasil, três anos antes, a mídia internacional apressou-se em cobrir uma situação tensa enquanto um ex-presidente se preparava para ser preso. Tal como Lula, Zuma provinha de um ambiente rural desfavorecido e desenvolveu um carisma pessoal que o levou à presidência após uma luta contra um regime opressivo.

Ambos os homens foram alvo de hostilidade sustentada por parte de uma mídia dominada pelos brancos e estridentemente alinhada ao Ocidente antes de serem condenados. Em ambos os casos, as coligações que se mobilizaram contra um antigo presidente eram total ou largamente compostas por elites.

Contudo, as cenas fora da casa de Zuma em Nkandla diferiam muito daquelas fora da sede do sindicato em São Paulo. As poucas centenas de pessoas reunidas em apoio a Zuma não incluíam as organizações de massas da classe trabalhadora e dos pobres, a maioria das quais eram fortemente hostis a Zuma.

Muitos dos homens que usavam uniformes militares e se autodenominavam veteranos da ala militar do ANC, uMkhonto weSizwe, pareciam claramente ter nascido após o fim do apartheid. Nos dias que antecederam o prazo final de Zuma para se apresentar na prisão em Estcourt, vandalizaram barracas pertencentes a migrantes no coração de Durban, na esperança de desencadear mais violência xenófoba.

Carl Niehaus, figura oportunista e sem escrúpulos, falava incoerentemente diante das câmeras.

Na medida em que houve qualquer forma de apoio intelectual a Zuma, este veio principalmente de Andile Mngxitama. Outrora um jovem intelectual promissor, Mngxitama naufragou apoiando Shepherd Bushiri, o pregador evangélico famoso por seus “milagres” mal orquestrados. Ele também repetiu recentemente teorias de conspiração emprestadas da política trumpiana nos Estados Unidos, incluindo a paranóia em torno do 5G e a alegação de que Bill Gates estava usando vacinas contra a Covid para inserir “dispositivos de rastreamento” nas pessoas.

As diferenças entre os históricos de Lula e Zuma no poder eram igualmente gritantes. Ao contrário de Lula, Zuma esteve envolvido em casos de corrupção gravíssimos. Durante o mandato de Lula, 40 milhões de pessoas saíram da pobreza e a pobreza extrema diminuiu 50%, entre muitas outras conquistas.

É inegável que as carreiras políticas de Lula e Zuma ofereceram contrastes marcantes, destacando os desafios do combate à corrupção e às desigualdades sociais em contextos políticos variados.

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