A polêmica em torno do romance “Houris” de Kamel Daoud: entre a ficção e a realidade

Após a vitória no Prix Goncourt pelo seu romance "Houris", o escritor Kamel Daoud encontra-se no centro de uma polémica. Uma mulher afirma que a história do livro é baseada em sua própria vida, levantando questões sobre inspiração e privacidade. Kamel Daoud rejeita acusações de plágio e defende o seu trabalho, destacando a fronteira entre a ficção e a realidade. Esta controvérsia destaca as questões complexas da criação literária.
O renomado escritor franco-argelino Kamel Daoud recebeu o prestigioso Prix Goncourt por seu romance “Houris” em 4 de novembro de 2024 em Paris. Porém, na sequência desta consagração literária, surgiu uma polémica em torno da obra do autor. Uma mulher, Saâda Arbane, diz que a história contada no livro se baseia na sua própria vida, uma história pública na Argélia.

A história de Saâda Arbane, sobrevivente de uma tentativa de corte da garganta por jihadistas em 1999, teria inspirado a personagem principal de “Houris”. Ela afirma que Kamel Daoud teria conhecido sua vida pessoal através de sua esposa psiquiatra, que a teria como paciente. Apesar dessas afirmações, o escritor afirma que seu romance não faz referência direta a essa mulher e que não há ligação entre as duas.

Posteriormente, a queixosa fez comentários comoventes durante uma entrevista televisiva, expressando o seu desconforto com esta situação. Ela afirma ter sido acompanhada em consulta pela esposa do escritor e não queria que sua história pessoal fosse revelada em uma obra literária.

Kamel Daoud, por sua vez, rejeita acusações de plágio e afirma que seu romance é uma obra de ficção, sem ligação direta com a vida privada de ninguém. Ele também denuncia as possíveis manipulações políticas por trás deste caso, destacando as pressões que tem sofrido desde a publicação do seu livro, em agosto.

O escritor também se depara com outra denúncia de associações de vítimas do terrorismo na Argélia, mas mantém-se firme na sua posição, afirmando que o seu romance não pretende de forma alguma explorar tragédias humanas.

Em última análise, esta controvérsia põe em evidência as complexas questões ligadas à criação literária e à representação de factos reais na ficção. Ela questiona a fronteira entre inspiração e exploração, entre liberdade artística e respeito pela vida privada. Apesar destas acusações, Kamel Daoud mantém a sua posição de escritor empenhado e continua a defender a sua obra, garantindo ao mesmo tempo que a verdade literária tem precedência sobre todas as outras considerações.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *