No coração da bela cidade do Rio de Janeiro, em plena Praça Mauá, um cenário animado chama a atenção de curiosos: está acontecendo o maior festival ao ar livre dedicado ao acarajé. Originária da Bahia, esta especialidade culinária é preparada com paixão pelas baianas, mulheres descendentes de escravos que perpetuam esta arte ancestral. Este donut frito, de origem africana, conquistou o paladar de brasileiros e visitantes de todo o mundo, tornando-se um alimento básico da gastronomia local.
Antes reservado à Bahia, o acarajé e a cultura das baianas experimentam hoje um crescimento notável em todo o país. Feito principalmente com feijão fradinho, esse prato é moldado com colheres de madeira e de metal e depois mergulhado em óleo de palma para obter aquela tão apreciada textura crocante. Depois de cozido, o donut é partido ao meio e guarnecido com vatapá, também de origem africana, e camarão seco, oferecendo uma explosão de sabores na boca.
O festival Baiana de l’Acarajé, agora em sua segunda edição, permitiu que muitos gourmets iniciantes descobrissem pela primeira vez esta deliciosa iguaria. Ita Yani, turista japonesa presente, não deixa de elogiar a delicadeza deste preparo: “Delicioso!”, exclama com entusiasmo. Mas além do sabor inesquecível, o acarajé também carrega uma profunda dimensão cultural e religiosa.
As baianas que fazem e vendem acarajé perpetuam as tradições dos orixás, divindades africanas veneradas na cultura brasileira. É importante ressaltar que o acarajé, originalmente, era um alimento ritual oferecido durante cerimônias sagradas. Maura do Acarajé, uma daquelas mulheres orgulhosas de sua herança, exibe com orgulho uma imagem de Iansã, o orixá associado a este prato icônico.
Hoje, graças às novas regulamentações municipais, as baianas finalmente gozam de direitos garantidos que lhes permitem montar suas barracas em quase qualquer lugar e a qualquer hora do dia no Rio, quebrando séculos de restrições e injustiças. Na festa, uma variação de acarajé, cortado em pedacinhos e servido em travessa, também faz grande sucesso. Salada cremosa de quiabo e tomate complementa o tradicional vatapá e camarão seco, oferecendo uma fusão de sabores requintados.
Para as baianas, fazer e vender acarajé não é apenas um trabalho, mas uma verdadeira tradição cultural que deve ser protegida e celebrada. Estas mulheres, guardiãs da herança afro-brasileira, transmitem com paixão o seu saber a cada geração, garantindo assim a sustentabilidade desta prática ancestral.
Aliás, para as baianas, o acarajé vai muito além do simples preparo de um prato delicioso. É um símbolo de resiliência, luta e orgulho. Cada donut frito é o reflexo de uma história, de uma herança cultural milenar que continua viva através destas mulheres fortes e determinadas.
No centro dessa agitação gastronômica e cultural, destaca-se o papel crucial de instituições como o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional do Brasil (Iphan). Estas organizações estão ativamente empenhadas em proteger e promover o acarajé como patrimônio cultural imaterial do país, apoiando assim as baianas na preservação de suas tradições e artesanatos.
Através desses festivais e eventos dedicados ao acarajé, as baianas do Rio de Janeiro não apenas cozinham e vendem donuts; eles celebram a história, a cultura e a herança de seu povo. Cada mordida no acarajé é uma homenagem vibrante à riqueza e diversidade da herança brasileira, um verdadeiro banquete para os sentidos e para a alma.