No centro da controvérsia em torno da noção de excelência negra está um debate crucial sobre os estereótipos raciais, as barreiras sistémicas e estruturais que os negros enfrentam diariamente. A própria ideia de excelência negra ou excepcionalismo negro sugere a transcendência da versão “padrão” da negritude, tornando o indivíduo uma raridade dentro da população negra. Esta raridade percebida dá-lhe respeito, dignidade e estatuto digno de ser imitado, mas a que custo?
Certamente, a visibilidade dos sucessos individuais dentro da comunidade negra é importante, mas é crucial contextualizar esta excelência e não sobrestimar o seu papel na libertação colectiva. Ao colocar demasiada ênfase na excelência individual, corremos o risco de reforçar estereótipos negativos sobre as pessoas negras e de obscurecer os verdadeiros obstáculos estruturais e sistémicos que continuam a manter uma grande parte da população negra em situações precárias, de desumanização e marginalização.
Os sucessos e conquistas excepcionais de um punhado de pessoas negras não devem servir para mascarar as lutas e dificuldades que a maioria enfrenta diariamente. Figuras de proa do sucesso negro, muitas vezes elogiadas pela sua capacidade de navegar em sistemas opressivos, correm o risco de desviar a nossa atenção das verdadeiras questões sociais, económicas e políticas que a comunidade negra enfrenta.
A ideia de que indivíduos negros excepcionais podem, sozinhos, mudar o destino de África não é apenas falsa, mas também prejudicial a uma verdadeira política de libertação. Mesmo reunindo todos estes indivíduos notáveis dentro do mesmo partido político, sem um compromisso firme com uma mudança radical que coloque os interesses do povo no centro das preocupações, o seu impacto permaneceria marginal e limitado pelas restrições inerentes ao sistema injusto sob o qual quais eles operam.
É portanto imperativo desafiar esta ideia de excepcionalismo negro e questionar os papéis das figuras negras que conseguiram integrar, progredir e contribuir significativamente para as instituições dominantes. Estes sucessos individuais, por mais louváveis que sejam, não devem distrair-nos da urgência de transformar os sistemas opressivos que continuam a privar uma grande parte da população negra de dignidade e de direitos.
Longe de constituir um meio de emancipação real, a ideia de excelência negra remete a uma visão elitista e individualista que perpetua as desigualdades e injustiças sofridas pelas comunidades negras em todo o mundo.. É hora de questionar esses padrões de pensamento que prendem os indivíduos negros a papéis predefinidos e de trabalharmos juntos em direção à verdadeira emancipação coletiva, que ultrapassa as fronteiras dos sucessos individuais para atacar os mecanismos de dominação e opressão que mantêm as populações negras numa situação de vulnerabilidade e marginalização.