Fatshimetrie: estudo aprofundado dos recentes terremotos na Etiópia
Ao longo das semanas, a Etiópia foi abalada por uma série de terramotos, lembrando-nos da fragilidade da litosfera sob os nossos pés. Os últimos acontecimentos sísmicos evidenciaram uma atividade preocupante na região, com dois novos sismos registados esta sexta-feira. Um terremoto de magnitude 4,6, a uma profundidade de 12,2 km, às 20h55, seguido por outro de mesma magnitude, a uma profundidade de 10 km, às 23h13, horário do Cairo.
Estes eventos sísmicos, o décimo e o décimo primeiro em cinco semanas, preocupam a comunidade científica e as populações locais. De acordo com o professor de Geologia e Recursos Hídricos da Universidade do Cairo, Abbas Sharaky, a Etiópia registou um aumento sem precedentes na actividade sísmica nos últimos três anos. Em média, ocorreram seis sismos por ano, mas em 2022 o número aumentou para 12, depois para 38 em 2023, antes de atingir 28 sismos em 2024.
Embora os sismos de magnitude inferior a cinco graus e distantes da Grande Barragem da Renascença Etíope (GERD) não pareçam ter um grande impacto, a proximidade de sismos mais poderosos pode representar um risco considerável. Com efeito, em Maio de 2023, ocorreu um terramoto com uma magnitude de 4,4 a apenas 100 km da barragem, realçando os potenciais perigos para esta infra-estrutura crucial.
O GERD, com capacidade de armazenamento de 60 mil milhões de metros cúbicos, representa um peso colossal de 60 mil milhões de toneladas. A região está assim a entrar numa fase crítica onde a ameaça de colapso se aproxima, não por causa dos sismos actuais, mas no caso da sua frequência se intensificar e da sua proximidade com a barragem. Isto sublinha a cautela necessária na gestão deste projecto, lembrando o desenho inicial americano que previa um armazenamento muito inferior, de 11,1 mil milhões de metros cúbicos.
Como a Etiópia permanece alerta para esta crescente actividade sísmica, é imperativo reforçar a monitorização e adoptar medidas preventivas para minimizar os riscos para as pessoas e infra-estruturas. A Fatshimetrie continuará a acompanhar de perto a evolução desta situação complexa e a fornecer análises aprofundadas para informar o debate sobre a gestão do risco de terremotos na Etiópia.
Num contexto em que a terra treme, a sabedoria e a ciência devem orientar as nossas ações para garantir segurança e resiliência face a este fenómeno natural poderoso e imprevisível.