Na excitação da sociedade contemporânea, os intensos fluxos turísticos que convergem para cidades emblemáticas como Barcelona, em Espanha, testemunham uma dupla realidade: a atração irreprimível por locais pitorescos e ricos em história, mas também as tensões crescentes causadas por estes fluxos massivos.
Barcelona, conhecida pela sua arquitetura Belle Époque, pelos seus museus e pelas suas praias encantadoras, recebe uma média de 170.000 visitantes por dia. Uma estatística impressionante, certamente, que contribui significativamente para os 13,5% do produto interno bruto da cidade. No entanto, estes ganhos económicos inesperados não fazem apenas felizes as pessoas entre os 1,6 milhões de residentes de Barcelona.
Com efeito, um recente inquérito municipal revela que o turismo está agora entre as três principais preocupações dos residentes, juntando-se a um movimento global observado em vários destinos chave na Europa. Esta situação evidencia uma realidade complexa: o desequilíbrio entre os benefícios económicos do turismo e as repercussões na qualidade de vida dos habitantes das cidades.
As críticas são abundantes, as tensões aumentam: “Há uma dependência económica excessiva do sector do turismo”, lamenta Daniel Pardo, da Assembleia de Bairros, sublinhando a agressividade da recuperação turística pós-pandemia. A manifestação de descontentamento crescente resultou em comícios populares e actos ocasionais de desafio, tais como pichações apelando aos turistas para regressarem a casa e acções de protesto simbólicas.
As repercussões deste turismo de massa fazem-se sentir até nas casas dos barceloneses, com exemplos comoventes como a transformação de um edifício perto da estação principal em arrendamento turístico de curta duração. Esta transformação de habitações tradicionais em estruturas hoteleiras contribui para a escassez habitacional e para a desnaturação dos bairros residenciais.
Perante esta observação alarmante, as autoridades locais estão a tentar reagir. O presidente socialista de Barcelona anunciou o abandono das licenças para quase 10 mil casas destinadas ao arrendamento turístico até 2028, a fim de combater o aumento dos custos imobiliários. Uma medida saudada por alguns e contestada por outros, revelando as profundas fracturas dentro da comunidade de Barcelona.
Ao mesmo tempo, os intervenientes no sector do turismo procuram diversificar a economia de Barcelona, por exemplo, limitando o número de transatlânticos que atracam no porto, ao mesmo tempo que pensam no futuro do turismo da cidade. Uma reflexão necessária para garantir um desenvolvimento equilibrado que respeite as dimensões económica, social e ambiental.
O desafio para Barcelona, e para muitos destinos populares em todo o mundo, reside, em última análise, na capacidade de reinventar um modelo de turismo sustentável, que respeite as identidades locais e as aspirações dos residentes.. Trata-se de encontrar o equilíbrio subtil entre a abertura ao mundo e a preservação dos tecidos urbanos, para que cada visitante que percorre as ruas de Barcelona contribua para o enriquecimento mútuo de uma cidade que, mais do que nunca, quer ser o anfitrião exemplar de uma diversidade cultural em constante evolução.