Na ladeira escorregadia da corrupção: o caso que abalou a Nigéria

Fatshimetrie: Na ladeira escorregadia da corrupção e dos escândalos políticos

Na era atual de informação instantânea e conectividade online, os escândalos políticos e os casos de corrupção parecem agora tão comuns como o nascer do sol. Os cidadãos, exaustos e desiludidos, viram tantos casos sucederem-se, que a indignação pública parece sufocada num deserto de resignação. Entretanto, os governos, atolados no oportunismo e imunes aos protestos, permanecem imperturbáveis ​​pela agitação do povo.

Em teoria, os escândalos deveriam ser a força motriz das reformas. Deveriam provocar a indignação pública, questionar a consciência dos líderes e expor o governo ao escárnio e à vergonha. Os escândalos devem suscitar uma reflexão séria, uma reavaliação e um questionamento das normas estabelecidas. No entanto, em muitos casos, os cidadãos lutam numa miséria sufocante, enquanto o governo permanece numa indiferença vergonhosamente habitual.

O exemplo recente do caso Bobrisky ilustra perfeitamente esta realidade. No início deste ano, a Comissão de Crimes Económicos e Financeiros (EFCC) anunciou a criação de um Grupo de Trabalho Anti-Mutilação Naira. Entretanto, muitos políticos corruptos que desviaram milhares de milhões do tesouro público circulam livremente, sem serem molestados. Na verdade, na Nigéria, quando as autoridades responsáveis ​​pela aplicação da lei se esforçam por rastrear sombras e varrer teias de aranha, deixando os verdadeiros criminosos impunes, as pessoas acenam com um ar de conivência. Esta força-tarefa prendeu alguns indivíduos, mas o primeiro acusado a ser julgado foi o polêmico travesti Bobrisky. Ele foi acusado de lavagem de dinheiro e mutilação da naira. Os puritanos julgaram que o carma o havia alcançado. Contudo, a inclusão da lavagem de dinheiro no indiciamento despertou curiosidade. Antes do início do julgamento, a acusação de lavagem de dinheiro foi retirada e Bobrisky se declarou culpado de mutilação de nairas. Parecia surgir um resultado benevolente, até que o juiz pronunciou a sentença: 6 meses de prisão, sem possibilidade de pagamento de multa. Bobrisky cumpriu sua pena e voltou à busca de celebridades.

No entanto, a história tomou um novo rumo esta semana, quando vazou a gravação de uma conversa telefônica. Dois dias antes, um ativista social conhecido como Very Dark Man atraiu a atenção nacional com uma gravação entre Bobrisky e um homem a quem ele pedia um empréstimo enquanto estava detido. Esta conversa lançou uma nova luz sobre o caso original. De acordo com esta conversa, durante o seu julgamento, Bobrisky alegadamente solicitou aos agentes da EFCC circunstâncias atenuantes.. Esses agentes supostamente exigiram um suborno de N15 milhões para retirar a acusação de lavagem de dinheiro. Bobrisky, supostamente na prisão, recorreu a seus amigos para arrecadar a quantia necessária. Este valor foi pago aos funcionários corruptos, a acusação de branqueamento de capitais foi retirada e Bobrisky declarou-se culpado de mutilação de nairas, uma acusação que poderia ter contestado. Ele esperava erroneamente clemência do juiz. Este último recusou-se a entrar neste jogo. É por esta razão que Bobrisky não beneficiou de uma pena mais branda como primeiro infrator. Porém, a caminho da prisão, Bobrisky ligou para seu padrinho. Este misterioso benfeitor prometeu mantê-lo longe do pátio do prisioneiro. Depois de algumas ligações para Abuja, o homem garantiu-lhe uma prorrogação em troca de uma quantia em dinheiro. Os funcionários da prisão aceitaram o suborno, colocaram Bobrisky num apartamento com ar-condicionado perto da prisão e exigiram que ele não mostrasse seu rosto radiante pelas janelas.

À medida que o caso chegava ao fim, Bobrisky começou a pensar em reparar sua imagem manchada. O estigma de ser ex-presidiário pesava muito em sua consciência. Ele então se virou para Falz. Ele falou sobre isso com seu pai, o famoso Femi Falana. Segundo a conversa telefônica, Falana prometeu obter o perdão presidencial para Bobrisky em troca de dinheiro. Very Dark Man ameaçou lançar uma nova gravação se mais pressão fosse imposta. As massas famintas ouviram, mas não conseguiram expressar indignação.

Femi Falana negou qualquer envolvimento com Bobrisky. Falz, o Falana mais jovem, negou ter discutido um perdão presidencial, mas admitiu que Bobrisky ligou para ele para pedir ajuda financeira para obter alojamento VIP na prisão. Falz ameaçou processar por difamação. Enquanto isso, Bobrisky descartou toda a conversa telefônica. A EFCC lançou uma investigação para desvendar as circunstâncias que levaram à retirada das acusações de branqueamento de capitais. O Serviço Prisional suspendeu três altos funcionários ligados ao caso Bobrisky. A Ordem dos Advogados da Nigéria apela a uma investigação aprofundada entre as diferentes agências. Very Dark Man resiste a qualquer animosidade e exige uma investigação externa. O Procurador-Geral da Federação permanece em silêncio. A presidência parece desinteressada. Em breve a poeira baixará.

E todos que pararam e estalaram os dedos seguirão em frente. A questão do Ministro suspenso, Betta Edu, e do chamado Aeroporto de Kogi continua sem solução. Nove meses após este escândalo, a presidência não considerou solicitar um relatório à EFCC e a EFCC não informou o público. O sistema está entorpecido. Ninguém foi exonerado ou acusado. Esses becos sem saída minam o moral dos jovens agentes responsáveis ​​pela aplicação da lei. A confusão moral reina. O corpo governante está em crise e só uma verdadeira introspecção pode restaurar a confiança perdida.

Neste oceano de conspirações e travessuras, onde a verdade parece estar a afogar-se, os cidadãos terão de permanecer vigilantes face aos excessos de poder. Porque se a luz for fraca, cabe a todos reacender a chama da verdade e da transparência para iluminar um futuro mais justo e equitativo para todos.

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