Bem no coração de Kinshasa, fica o lendário Stade des Martyrs, uma testemunha silenciosa da turbulenta história da República Democrática do Congo. Porém, recentemente, uma sombra veio obscurecer este lugar cheio de símbolos e emoções. As construções ilegais, uma afronta à memória dos heróis que deram a vida pela independência do país, surgiram como cogumelos depois da chuva.
O absurdo e a injustiça da situação não nos podem deixar indiferentes. Como puderam estranhos construir hotéis e postos de gasolina em solo sagrado, sem que ninguém levantasse um dedo para impedi-los? Este sacrilégio, que transforma um lugar de memória num parque de diversão para a corrupção, revela grosseiramente o estado de decadência em que a RDC se encontra.
Já não se trata apenas de construções ilegais, mas de questionamento da ordem estabelecida, da justiça, da consciência moral. Porque o que podemos dizer quando tal transgressão é tolerada, aceita, até incentivada por aqueles que têm o dever de garantir o respeito às leis e aos valores fundamentais da sociedade?
Estas construções não são simplesmente fruto de iniciativas empresariais equivocadas, revelam a existência de redes de cumplicidade e conivência entre investidores sem escrúpulos e autoridades corruptas. Já não é apenas o betão e o asfalto que se espalham pelo terreno do Estádio dos Mártires, mas sim o cinismo e a ganância humana que corrompem até os lugares mais sagrados.
Os cidadãos, os atletas, os artistas, os amantes deste estádio, todos aqueles que ali vibraram ao ritmo das façanhas desportivas ou das tertúlias populares, merecem mais do que isso. Merecem um lugar de memória, de orgulho, um lugar onde celebramos a unidade e a resiliência de um povo. Não pode ser uma simples questão de património material, mas de património imaterial, da alma e da identidade nacional.
Já é tempo de a sociedade congolesa se levantar contra esta charada, este circo trágico onde a sua dignidade e o seu futuro estão em jogo. É hora de exigir responsabilização, exigir justiça e lembrar a todos que o património comum não está à venda a quem pagar mais. O Stade des Martyrs deve redescobrir a sua vocação, a sua missão principal, a de ser um lugar de memória, de homenagem e de encontro para todos os congoleses.
A questão da responsabilidade surge então com particular agudeza. Estarão as autoridades preparadas para agir, para condenar estes ataques à integridade do país, ou permanecerão cúmplices passivas numa farsa macabra? A resposta a esta pergunta determinará não só o futuro do Estádio dos Mártires, mas também o de toda uma nação em busca de sentido e de unidade.
Concluindo, é imperativo que se esclareçam estas construções ilegais, que se faça justiça e que se preserve a dignidade do Estádio dos Mártires.. Porque, além das pedras e do concreto, está em jogo a honra e a memória de um povo. Deixemos a voz da razão e da justiça soar alta e clara, para que a história se lembre de que o Stade des Martyrs foi capaz de resistir ao ultraje. e continuar a ser o símbolo imutável da força e da dignidade do povo congolês.