As corajosas mães de Kinshasa: no centro da luta das famílias monoparentais

Fatshimetria

A República Democrática do Congo, um país com múltiplos desafios socioeconómicos, enfrenta uma realidade preocupante: uma em cada três famílias é monoparental. Esta situação afecta milhões de crianças e igualmente muitas mulheres solteiras que devem assumir a responsabilidade financeira e educacional exclusiva do seu agregado familiar. Em Kinshasa, esta realidade assume uma dimensão particularmente opressiva, especialmente para as mulheres que trabalham no sector informal. Um mergulho no cotidiano dessas corajosas mães revela as dificuldades que enfrentam.

Nas ruas de Pakadjuma, um bairro de lata no coração da capital congolesa, Mama Eyenga encarna a luta de muitas mães solteiras. Após a morte do marido, esta mulher de 45 anos viu-se sozinha para sustentar as necessidades dos seus três filhos. Morando em uma casa modesta, sem luz nem conforto, ela ganha a vida dia após dia vendendo as bebidas que prepara. Os finais de mês difíceis e a ausência de uma renda fixa mergulham sua família em extrema precariedade. Mama Eyenga fala com emoção do choro de seus filhos diante da fome, uma realidade chocante para qualquer mãe amorosa.

A solidariedade entre mulheres monoparentais torna-se uma barreira essencial neste contexto de angústia. As mães de Pakadjuma ajudam-se umas às outras da melhor forma que podem, por vezes partilhando alimentos para satisfazer as necessidades umas das outras. Contudo, a falta de apoio externo é sentida de forma cruel, deixando estas mulheres sozinhas face às adversidades. Éliane Kibubi, advogada engajada, fundou uma organização que visa ajudar essas mães pagando as mensalidades escolares dos filhos. A sua acção humanitária demonstra a necessidade de uma solidariedade activa para apoiar estas mulheres corajosas que enfrentam as adversidades diárias.

A condição das mulheres monoparentais em Kinshasa também levanta questões jurídicas e sociais cruciais. Apesar da existência de leis que protegem os direitos das crianças e das famílias, a sua implementação continua a não ser implementada. Num país onde quase 36% das mulheres criam os seus filhos sozinhas, a ausência de um sistema de apoio à criança agrava a precariedade destas famílias monoparentais. Desiré Iseloko, diretora do Gabinete Nacional da Família, sublinha a urgência das instituições aprovarem leis que visem garantir um apoio financeiro adequado às mães solteiras.

A luta das mulheres monoparentais em Kinshasa revela não só dificuldades económicas, mas também profundas injustiças sociais. Estas mães corajosas, prontas a fazer tudo pelo bem-estar dos seus filhos, merecem maior apoio das autoridades e da sociedade como um todo. O estabelecimento de políticas familiares mais inclusivas e de medidas concretas destinadas a garantir a segurança financeira destas mulheres constitui um imperativo moral e social.. É hora de agir para oferecer um futuro melhor a estas mães excepcionais e aos seus filhos que merecem um futuro mais justo e equitativo.

Num país onde persistem tantos desafios, a força e a resiliência das mulheres monoparentais em Kinshasa são um testemunho comovente da sua determinação em superar obstáculos. A sua história merece ser ouvida, a sua coragem merece ser reconhecida e a sua luta merece ser apoiada. Ao oferecer uma nova perspectiva sobre a realidade das famílias monoparentais na RDC, é essencial sensibilizar o público para estas questões cruciais para a construção de uma sociedade mais inclusiva e solidária.

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